quarta-feira, 16 de março de 2011

EUTANÁSIA: ORDEM PARA MATAR?


EUTANÁSIA: ORDEM PARA MATAR?
O que significa a palavra “eutanásia”? A palavra "EUTANÁSIA" é composta por duas palavras gregas :“eu “(bem) e  “thanátos”  (morte) e significa literalmente "uma boa morte".
Podemos realçar, assim, duas importantes características dos actos de eutanásia: - Que a eutanásia implica tirar deliberadamente a vida a alguém e que a vida é tirada para benefício dessa pessoa, normalmente porque ela ou ele sofre de uma doença terminal ou incurável.
Os vários “tipos” de Eutanásia
Eutanásia Voluntária - Quando o doente deixa expresso o desejo que a sua vida acabe, se algum dia se encontrar numa situação de incapacidade total.
Eutanásia não-voluntária - Quando o doente não pode escolher entre a vida e a morte – caso de recém-nascido irremediavelmente doente ou incapacitado, ou então alguém que a doença ou acidente, tornaram incapaz e, sem que este tenha deixado expressa a sua vontade (se queria ou não que fosse praticada a eutanásia).
Eutanásia Involuntária - Quando realizada numa pessoa que não deu o seu consentimento, ou porque não lhe  perguntaram, ou porque recusou, preferindo continuar a viver, mas tendo mesmo assim sido exercida a prática da eutanásia.

Qualquer destes três tipos  de eutanásia se inclui em duas categorias mais gerais:
Eutanásia Activa ou Positiva- Quando é administrada uma injecção letal ou qualquer outro medicamento para o efeito.
Eutanásia Passiva ou Negativa - Quando é retirado o tratamento de suporte à vida ou seja, quando se deixa morrer sem cura o paciente cuja vida está a findar.

Todas as sociedades que conhecemos tendem a olhar para a eutanásia com certas reticências. No fundo todas elas têm em comum o conceito da proibição nos casos em que se tire a vida a um ser humano; o que existe são grandes variações culturais sobre como e quando é errado tirar a vida.

Holanda: o único país em que a eutanásia é legalmente permitida.
Se olharmos bem para trás no tempo, verificamos que no tempo dos gregos e dos romanos, práticas como o infanticídio, o suicídio e a eutanásia, eram práticas largamente aceites pela sociedade da altura.
No entanto a oposição da Igreja Católica Romana, manteve-se inalterada, e a eutanásia activa continua a ser um crime em todas as nações com excepção da Holanda.
Mas as opiniões dividem-se e a verdade é que uns concordam com esta prática de acabar com o sofrimento de um doente em estado terminal, outros discordam alegando suicídio assistido, condenando o doente que o solicita e o elemento que o executa.
A Holanda foi o primeiro país a legalizar a eutanásia em 1 de Abril de 2002.
Num estudo realizado pela Universidade de Göttingen, os sete mil casos de eutanásia praticados na Holanda, justificam o medo dos idosos de terem a sua vida abreviada a pedido de familiares.
Em 41% destes casos, o desejo de antecipar a morte do paciente foi da sua família.
Os médicos justificaram como motivo principal de 60% dos casos de morte antecipada, a falta de perspectiva de melhoria dos pacientes, vindo em segundo lugar com 32% a incapacidade dos familiares de lidar com a situação.
A eutanásia activa (quando administrada uma injecção letal) é a causa da morte de quatro mil pessoas por ano na Holanda.
Deve notar – se que 1640 dessas mortes foram contra a vontade do paciente (eutanásia involuntária activa)
A lei determina que a eutanásia só pode ser permitida por uma comissão constituída por um jurista, um especialista em ética e um médico e que na falta de um tratamento para melhorar a situação do paciente, o médico é obrigado a pedir a opinião de um colega.
Mas na prática a realidade é outra, na realidade esta decisão é muitas vezes realizada a porta fechada entre médico e familiares dos doentes.
Cinco anos depois de se tornar o primeiro país a legalizar a eutanásia, a Holanda prepara-se agora para pôr em prática uma polémica lei que prevê a eutanásia em crianças.
Apesar de ilegal, a eutanásia de crianças até aos 12 anos é relativamente comum neste país, estimando-se que existam entre 15 e 20 casos por ano.
Respondendo a uma questão sobre em que é que consistia esta lei, o Ministro da Saúde Holandês respondeu, e passo a citar, “que esta lei consiste na base de que a eutanásia de crianças continuará a ser proibida. Estamos sim, é a criar uma comissão que vai analisar os pedidos de eutanásia relativos a crianças que nascem com doenças incuráveis muito graves, principalmente recém-nascidos (…).
Não posso deixar de salientar que no ano de 2006, foram “eutanasiadas” cerca de 30 crianças na Holanda, das quais só quatro eram recém-nascidos; os restantes tinham entre 5 e 12 anos.  

A eutanásia e o fantasma do nazismo.
"A destruição da vida destituída de valor “ é simplesmente o título de uma publicação do psiquiatra Alfred Hoche e do jurista Karl Binding, nos anos vinte que serviu como grande referência para o que foi o nazismo. Nesta publicação desenvolve – se a tese de que há seres humanos sem qualquer valor vital.
Assim em 1933, a “Lei para a prevenção das doenças hereditárias”, obrigou à esterilização obrigatória para prevenir a propagação da imbecilidade, da loucura, da epilepsia, da surdez, da cegueira e do alcoolismo hereditários.
Em 1939, no início da II Guerra Mundial, esta lei já tinha causado a esterilização de mais de 375.000 pessoas, incluindo aqueles que tinham perdido membros em acidentes de trabalho.
Em 1946, viviam só 46.000 pessoas na Alemanha; muitos dos restantes tinham sido assassinados, com eufemismos como:"morte misericordiosa", "morte por compaixão", "ajuda para os agonizantes", "destruição da vida destituída de valor" .
Seguindo este raciocínio de que “Existem vidas não dignas de ser vividas”, apercebemo-nos que no início, esta interpretação referia-se apenas aos doentes crónicos, desenganados pela medicina ou muito graves e que gradualmente, a esfera dos que deviam ser incluídos nesta categoria foi-se ampliando e diversificando, passando muito rapidamente também para: os socialmente não produtivos, os ideologicamente não alinhados, os não desejados racialmente, todos os não germanos, considerados estrangeiros, independentemente do país a que pertenciam.

Dois casos ou os dois lados da eutanásia
1. O Doutor – morte ou boa – morte? Jack Kevorkian
Este médico patologista aposentado, já auxiliou mais de 130 doentes a realizarem eutanásia desde 1990.
Vale a pena lembrar que foi processado e inocentado em diferentes estados da União Europeia.
Um caso de suicídio assistido por ele realizado, com a Srª Rebeca Lou Badger, deixou algumas pessoas muito preocupadas com os critérios utilizados.
Esta senhora, então com 39 anos, era tida como portadora de esclerose múltipla, tendo solicitado a assistência do Dr. Kevorkian para a realização de suicídio assistido.
Posteriormente, foi submetida a autópsia, onde não foi constatada qualquer evidência da doença que teria sido utilizada como justificativa para terminar com a sua vida.
Em Novembro de 1998, o Dr. Kevorkian realizou uma eutanásia activa, isto é, fez todos os procedimentos necessários para que um paciente viesse a morrer e gravou toda a sequência de acções, as quais divulgou mundialmente pela televisão, não sendo processado por isso.

Mas existe o outro lado da eutanásia, aquele em que acabamos por concordar com ela, pois a situação é tão dramática que damos connosco a pensar que provavelmente seria o melhor caminha a seguir.
2. O caso de Ramon Sampedro
Ramón Sampedro era um marinheiro espanhol de 55 anos, que ficou tetraplégico aos 26 anos, em virtude de um mergulho mal calculado no mar. Permaneceu tetraplégico durante 29 anos.
Solicitou à justiça espanhola o direito de morrer, por não suportar viver mais nessas condições. A sua luta judicial demorou cinco anos.
O direito à eutanásia activa voluntária não lhe foi concedido, pois a lei espanhola vê este tipo de acção como homicídio.
Em Novembro de 1997, mudou-se da sua cidade, Galícia, para La Coruña tendo a assistência diária dos seus amigos, pois não era capaz de realizar qualquer actividade sozinho.
Com o auxílio de amigos planeou a sua morte de maneira a não incriminar a sua família e principalmente os seus amigos.
No dia 15 de Janeiro de 1998 foi encontrado morto, de manhã, por uma das amigas que o auxiliava. A autópsia indicou que a sua morte foi causada por ingestão de cianeto.
Gravou em vídeo os seus últimos minutos de vida e nessa gravação é evidente que os amigos colaboraram colocando o copo com um canudo ao alcance da sua boca.Porém fica igualmente documentado que foi ele quem realizou a  acção de colocar o canudo na boca e ingerir o conteúdo do copo.
A repercussão do caso foi mundial, tendo tido destaque na imprensa como morte assistida.
A amiga de Ramón Sampedro foi incriminada pela polícia como sendo a responsável pelo homicídio, mas um movimento internacional de pessoas enviou cartas "confessando o mesmo crime". Deste modo a justiça, alegando impossibilidade de levantar todas as evidências, acabou por arquivar o processo.
Os últimos momentos de Ramon Sampedro foram uma agonia que durou 20 minutos. “Tenho uma cabeça viva, agarrada  a um corpo morto”- disse.
Ele sonhara morrer com uma injecção, sem sofrimento e com música de Wagner mas o Estado espanhol negou-lhe essa possibilidade. Foi obrigado a morrer clandestinamente, num sofrimento atroz.
Ramón Sampedro sempre soube  - teve 29 anos para pensar nisso - que não queria ser um marinheiro em terra.
As suas últimas palavras foram para os juízes:
  "Não é que a minha consciência esteja presa na deformidade do meu corpo atrofiado e insensível, mas sim na deformidade, atrofia e insensibilidade das vossas consciências".

Retirado do site A Advogada do Diabo.




1 comentário:

  1. No caso do Ramón Sampedro achei muito egoísmo da parte dele, cara a família acreditou na recuperação dele.. que ele refizesse a vida.. e ele faz isso? Sou contra a eutanásia por um motivo ( não mataria uma vida para salvar outra por que de qualquer maneira estaria MATANDO UMA VIDA )

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