terça-feira, 1 de março de 2011

O IMPACTO DA FILOSOFIA NA VIDA QUOTIDIANA


O impacto da filosofia na vida quotidiana.
Muitas vezes ouve – se dizer que a filosofia não serve para nada e que perdidos num mundo de ideias os filósofos não exercem, com as suas teorias, qualquer influência sobre o mundo e a vidas dos seres humanos. Nada mais longe da verdade.

«A filosofia caracteriza – se pela elaboração de teorias abstractas, cuja ligação com a vida de todos os dias não é imediatamente transparente. Contudo, é precisamente este distanciamento que permite ao filósofo considerar as coisas com olhos diferentes e ver o que, com o olhar de todos os dias, escapa ou não se compreende. O que é a realidade? Deus existe? E se existe qual é a sua relação com o mundo e os seres humanos? Como distinguir o bem do mal, o justo do injusto? É nosso dever ajudar os outros? O que é o Estado e porque devemos submeter-nos às suas leis?
Estas questões, apesar da sua formulação abstracta, são muito concretas porque o modo como lhes respondemos afecta as nossas acções quotidianas. Que eu seja optimista ou pessimista está ligado não só ao meu carácter, mas também à concepção que tenho da realidade. Das minhas crenças morais depende também que seja solidário ou egoísta na relação com os outros. Ser politicamente de esquerda ou de direita tem muito a ver com o modo como entendo o Estado e a sua função. A concepção que tenho do conhecimento científico influencia a minha escolha de acreditar ou não na astrologia, de ir ao médico em vez de ir a um curandeiro. Das minhas convicções religiosas depende em parte que vá ou não à missa. E assim por diante. Para responder às perguntas da filosofia analisam-se conceitos básicos e muito
gerais, elaboram-se teorias abstractas.  Os referidos conceitos e teorias abstractas – são estudadas pelos filósofos não só por si mesmas, pelo seu valor intrínseco, mas também como instrumentos que nos guiam na vida concreta, para sabermos melhor onde pôr os pés».
Giuseppe Cambiano e Massimo Mori, Le Stelle di Talete, Editori Laterza, Bologna, 2004, pg 2 e 3. Tradução e adaptação do autor.
Dissemos já que a filosofia procurava encontrar respostas credíveis para questões básicas da vida. Ora, as respostas que uma pessoa alcança ou que aceita terão, mesmo que muitas vezes não se dê explicitamente conta, um impacto assinalável na sua vida. Pensemos por exemplo na questão «O que sou eu, que espécie de ser sou eu?». Uma resposta tradicional a esta questão é a seguinte: O ser humano é união de um corpo e de uma alma. O corpo tem uma duração temporalmente limitada. A alma vive para sempre. Afirma – se também que a vida eterna da alma depende do modo como conduzimos a nossa existência na vida presente. Se aceito esta teoria tenho uma resposta à questão bem prática «Como devo viver a minha vida?». Devo viver cumprindo certas normas que permitirão alcançar a felicidade e a bem – bem-bem - aventurança noutro mundo.
Outra questão: «Será que Deus existe?». Se respondo afirmativamente a minha atitude em relação aos outros, ao mundo natural, à morte e ao que considero moralmente certo ou errado, será em parte bem diferente da atitude de quem responder não.
«Como devo relacionar – me com os outros, com a sociedade em geral?». A forma como responder a esta questão irá influenciar o tipo de cidadão que serei, a participação ou na vida política e a vontade de mudar o mundo ou de não me interessar minimamente por isso.
 Imaginemos também que defendo a teoria filosófica de que os animais têm direitos, sobretudo o direito de não sofrer e que por isso temos obrigações morais a seu respeito. Esta crença pode alterar radicalmente os meus hábitos e comportamentos: tornar – me – ei vegetariano, participarei eventualmente em movimentos contra as touradas e outros espectáculos que considero causarem sofrimento escusado aos animais e poderei mesmo escrever livros sobre o assunto.
 Se considero que é insuportável viver em sociedade sendo feliz no meio da desgraça generalizada, se penso que a justiça social não é compatível com uma excessiva desigualdade entre favorecidos e desfavorecidos, serei a favor do pagamento de impostos como uma das formas de assistência social contínua aos que estão em piores condições económicas.
Como se vê as teorias filosóficas têm implicações práticas profundas. Um aviso: os livros de filosofia não são manuais de auto – ajuda como os que vemos nos escaparates das livrarias. Nenhum filósofo intelectualmente honesto nos diz como devemos resolver os nossos problemas. E mesmo que uma teoria sirva indirectamente para tal efeito, exige – se que seja assimilada criticamente, discutindo – a e avaliando os seus pontos fracos e fortes.  

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