quarta-feira, 2 de março de 2011

TEXTO SOBRE A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE BELEZA


A Evolução do Conceito de Beleza


O conceito de beleza tem sido diferente conforme as épocas e os lugares. Da reflexão filosófica sobre a beleza resultaram igualmente diferentes interpretações e significados.

A Beleza como Harmonia e Simetria Objectivas


Na Antiguidade Clássica, sobretudo na filosofia grega, predomina uma concepção objectivista da beleza. Esta é uma qualidade que possuem os objectos artísticos e naturais a que chamamos belos. Mas o que torna um objecto belo? A harmonia das partes que o constituem. O belo é o resultado de uma combinação e conjugação perfeitas em proporção, medida e ordem.
Contudo, a exaltação da forma, da simetria e da harmonia não era suficiente para explicar ou descrever a beleza de modo plenamente satisfatório. O incalculável e o indefinido foram pouco a pouco reconhecidos como componentes essenciais da beleza. A estética medieval, de pendor ainda objectivista, corresponde, contudo, a uma certa mudança de perspectiva.

Beleza Física e Beleza Espiritual


Para os pensadores medievais, profundamente influenciados pelo Cristianismo, a beleza é essencialmente uma criação divina. Deus é a beleza inefável que se manifesta no mundo sensível, tornando-o por isso belo e impelindo o crente a ir mais além não se restringindo ao mundo da beleza sensível. Este mundo é simplesmente a promessa de uma beleza superior e de outra ordem ou dimensão. Começa a impor-se uma distinção com um futuro assegurado: a distinção entre beleza física (sensível, material, enganadora e passageira) e a beleza  espiritual ou interior (superior, durável e sinónimo de bondade e virtude).
Com o Renascimento verifica-se um retorno aos valores da Antiguidade Clássica. Tal como na Antiguidade e na Idade Média, predomina uma concepção objectivista da beleza: a beleza é atribuída ao objecto, é uma propriedade deste, um equilíbrio e harmonia presentes no objecto e que satisfazem os sentidos. Em oposição à mentalidade medieval, insiste-se numa concepção mais naturalista da beleza e da arte. A natureza é o modelo autêntico para o artista, a verdadeira mestra. Daí decorre a importância que os artistas dão à aplicação dos estudos científicos (matemáticos, geométricos, anatómicos…) à actividade e criação artísticas. Tal importância é visível no interesse pelo estudo das leis da percepção que permitiram representar com fidelidade as percepções do espaço.

A Beleza como Sentimento Subjectivo


O processo de subjectivização da beleza começa com a Idade Moderna e culmina no filósofo alemão Immanuel Kant. No século xviii, as correntes empirista e iluminista salientaram o facto de que a beleza não depende tanto das características do objecto como da forma de o sujeito o percepcionar e sentir. Para Kant, como já vimos, a beleza traduz-se num juízo que exprime um sentimento da prazer. Kant, para evitar o relativismo estético, tem contudo o cuidado de mostrar que quando dizemos “Algo é belo” o fazemos como se a beleza fosse uma qualidade do objecto, isto é, uma propriedade objectiva, apesar de ter a sua origem num estado subjectivo.

Beleza Natural e Beleza Artística


Tal como existem objectos naturais e objectos artísticos, existem dois tipos de beleza:

1 – A beleza natural – A emoção estética é provocada por objectos naturais (uma paisagem, uma árvore, uma flor).
2 – A beleza artística – A emoção estética é provocada pelas criações artísticas da imaginação humana.
Com a progressiva autonomia da arte em relação à natureza – a arte, a partir da Idade Moderna, e sobretudo nos últimos três séculos, passa a ser concebida como manifestação da liberdade e da criatividade do génio artístico e não como espelho da realidade natural – a beleza deixa de ser avaliada segundo critérios naturalistas adquirindo um valor próprio, em si mesma.



A Beleza e a Fealdade


O que é a fealdade? Tradicionalmente foi identificada com a negação da beleza. O belo era o formoso e o harmonioso. O feio era o disforme e  desfigurado. Embora, como o testemunham os quadros de Bosch, o feio e o disforme não tenham estado completamente ausentes da história da arte, o seu lugar é até ao Romantismo marginal. Ou servia como contraponto à beleza (para realçar esta) ou era um meio de exprimir o que se reprovava moralmente (o vício, a criminalidade).
Com o Romantismo, o terrível, o sinistro, o monstruoso tornam-se escabrosos, as paisagens desoladas e lúgubres. É, contudo, mais um recurso artístico para expressão de sentimentos do que um fim em sim mesmo, do que algo com valor próprio. No século XX dá-se uma espécie de radicalização do gosto pelo feio. Mais do que um recurso artístico passa a ser um fim em si mesmo. “Só o feio é formoso”. Um dos principais expoentes desta tendência é o pintor Francis Bacon (1909-1992), fascinado pelas distorções e deformidades da figura humana e procurando recriá-las para provocar repugnância e repulsa. A arte deixa de ser considerada como actividade unicamente produtora de beleza ou cujo objectivo essencial é a procura da forma bela.

O Belo e o Sublime


O belo e o sublime causam prazer. Contudo, a experiência da beleza é a experiência da bela forma. Ora, a forma implica limitação. A experiência do sublime está associada à ausência de forma, isto é, de limitação. A esmagadora grandeza do oceano é um exemplo, ultrapassa a nossa imaginação. É a manifestação de uma poderosa força que faz estremecer quem a contempla.



3 comentários:

  1. Lol adorei o primeiro comentário, decidi comentar mesmo só por causa dele. Mas adiante, wow acho que estou a escrever no site do autor do livro que usamos na escola.
    Agora a sério, acho que vou usar este texto para o "texto expositivo-argumentativo" de português em que tenho de defender que "a beleza é um conceito artificial criado pela cultura e pela sociedade de uma dada época". Seja a beleza lá o que for, já tenho provas de que o seu conceito muda ao longo dos tempos. Obrigada!

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  2. isso me ajudou muito no meu trabalho de educação fisica...

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