terça-feira, 26 de abril de 2011

HEGEL – A HISTÓRIA É A PROGRESSIVA REALIZAÇÃO DA LIBERDADE


HEGEL – A HISTÓRIA É A PROGRESSIVA REALIZAÇÃO DA LIBERDADE
Para Hegel, Deus, o Absoluto realiza-se na história porque não é uma realidade absolutamente separada do mundo. Se nas religiões e teologias tradicionais, Deus é um princípio exterior ao mundo, ele deixa de ser na filosofia hegeliana o juiz que transcende a história e o universo. Deus é o Absoluto, o Espírito absoluto ou, como também diz Hegel, a Ideia absoluta. Deus é uma realidade espiritual dinâmica que se realiza progressivamente no mundo e na história isto é, na dimensão espácio-temporal. Ele é a totalidade do real, mas não se realiza ou toma consciência de ser a totalidade senão através do processo histórico, através de uma viagem dialéctica.
O Absoluto é um resultado, algo que se perfaz no processo histórico e não uma perfeição situada para lá do mundo humano. A história é assim a imensa odisseia do Espírito ou da Razão divina, que encarna na história, transportando a cruz da finitude, dos vários momentos históricos, finitos, efémeros e acaba progressivamente por conhecê-los como seus (do Absoluto) e não como algo que lhe é exterior.
Tal como o Filho de Deus encarnou no tempo, na História, para "morrer na dor da negatividade" e para ressuscitar como "Espírito eterno': mas vivo e presente no mundo, de igual modo o Absoluto, Deus, deve sofrer o calvário da História, deve tornar-se imanente ao espaço e ao tempo para adquirir "a realidade, a verdade e a certeza do seu trono".
Esta concepção de Deus suscitou de imediato objecções das religiões e teologias tradicionais. As igrejas (católica, e protestante essencialmente) não podiam admitir a negatividade em Deus nem que se pusesse em perigo a transcendência de Deus, aquele que está acima de tudo. Hegel toma a sério o dogma cristão da encarnação.
Deus está em todo o lado, sobretudo na história, de cujo governo se encarrega, encarnando no devir histórico e não ficando a contemplá-lo da sua longínqua transcendência como se fosse um espectáculo que não o afectasse. Entrega-se à paixão e à morte, para se elevar das suas cinzas à sua majestade. Como o próprio Hegel diz:
 "A história nada mais é do que o plano da sua providência. Deus governa o mundo; o conteúdo do seu governo, o cumprimento do seu plano, é a história universal. Apreender este plano eis a tarefa da filosofia da história e esta pressupõe que o ideal se realiza (...) Sob a pura luz da Ideia divina, a qual não é um simples ideal (mas uma realidade em realização) desvanece-se a ideia de que o mundo seja um devir insensato (sem sentido) "
[Hegel, "A Razão na História"]
A capacidade assimiladora da dialéctica hegeliana não fica por aqui. Se libertou o Deus cristão dos seus guardiões demasiados zelosos (as igrejas), para permitir que ele fosse aquilo que desde sempre quis ser ou seja, humano e histórico, pretende também explicar, já que os dois planos estão intimamente ligados, a história da humanidade. Explica como a humanidade avança em direcção à liberdade. Desde a tirania ou o despotismo em que um só é livre, passando pela oligarquia onde vários são livres, até à democracia universal, onde todos somos livres, o caminho não é em linha recta, é tortuoso, porque antes da reconciliação final devem produzir-se conflitos e cisões.
A história universal vai do Leste para o Oeste porque a Europa é absolutamente o fim da história, a Ásia o começo ( ...) O oriente sabia e .sabe que somente um é livre; o mundo grego e romano, que alguns são livres; o mundo germânico sabe que todos são livres".
[Hegel '~ Razão na História"]
A História de que fala Hegel não é uma sucessão incoerente e desordenada de factos, não é o palco onde reinam o barulho e a fúria sem significado. Não é uma acumulação de acontecimentos sem sentido. A história hegeliana é a odisseia, a manifestação da vida e da presença de Deus, da Ideia ou do Espírito Absoluto. A Ideia (Deus) ao abandonar a sua transcendência, o seu isolamento em relação ao mundo, dá sentido à aparente barafunda e desordem dos eventos históricos. A estes, infinitamente variados, o Espírito ou a Razão divinos, comunicam coerência e lógica. O desenvolvimento histórico é orientado. O Espírito é por definição, liberdade. O sentido que orienta a história é a realização da liberdade do Espírito ou de Deus, o reconhecimento progressivo de que o mundo não é exterior a Deus mas o lugar da sua presença viva. A dialéctica histórica, vista do ponto de vista humano, identifica-se a uma longa marcha para uma sociedade reconciliada consigo mesma, em que todos sejam livres. a história terá atingido o seu fim.

1 comentário:

  1. Parabéns pelo blog! Agora que estou apaixonada por conhecimentos filosóficos encontrei no blog um ótimo aliado nessa minha busca pelo saber.

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