O QUE
É A FILOSOFIA: OS PROBLEMAS E O MÉTODO.
A filosofia era,
para os antigos gregos, o amor pelo saber. Philos
significava amor e sophia, saber.
Este amor pelo saber, a valorização do saber, é algo que caracteriza em geral
os filósofos. Estar informado, a par da evolução do conhecimento científico,
das mudanças no modo de pensar e de agir dos seres humanos, é importante para o
exercício da atividade filosófica. Os filósofos não se interessam
exclusivamente pelo que os outros filósofos pensam. A sua curiosidade e vontade
de saber vai para além da história da filosofia. Assim, o amor pelo saber é, a
bem dizer, uma característica permanente dos filósofos. Contudo, há uma
diferença em relação ao que acontecia há alguns séculos atrás. Imagine que
estudava ou na Academia de Platão ou no Liceu de outro grande filósofo grego
chamado Aristóteles. Aí estudaria matemática, física, química, biologia,
psicologia, geografia, direito, política, etc. Poderá pensar que agora também
se estudam essas disciplinas, por exemplo, nas diversas faculdades da
universidades portuguesas. Há, apesar de tudo, uma diferença significativa. Na
Antiguidade, a filosofia, o referido amor pelo saber, abrangia praticamente
todas as áreas do saber. A filosofia era o estudo de tudo o que a humanidade
pretendia conhecer.
Todas essas disciplinas pertenciam ao campo da
filosofia pelo que quem se interessava pelo estudo do mundo natural, pela
matemática ou por questões psicológicas tinha o nome de filósofo. Aristóteles dividia a filosofia em filosofia
primeira e filosofias segundas. A filosofia primeira era a metafísica entendida
como estudo do que está para lá do mundo natural. As filosofias segundas eram
aquilo a que agora chamaríamos física, astronomia, biologia, psicologia,
ciência política, etc. Há quem ilustre esta situação dizendo que a filosofia
era a «mãe de todas as ciências» e que os
primeiros filósofos, apesar de não disporem dos meios tecnológicos que
atualmente permitem investigar o mundo natural, foram os primeiros cientistas.
A pouco e pouco,
as «filhas» foram abandonando o lar materno, adquirindo autonomia. Tem sido um
longo processo. A física emancipou – se no século XVII, a química no século
XVIII e a psicologia no final do século XIX, só para dar alguns exemplos. Como
aconteceu isso? Estas diferentes formas de saber desenvolveram métodos
próprios, diferentes técnicas de investigação
constituindo assim uma forma própria – não filosófica – de responder aos
problemas que lhes interessava resolver. Assim, questões como «O que é a luz?»,
« A inteligência é inata ou adquirida?», «Qual a origem das espécies?» que
anteriormente eram consideradas filosóficas deixaram de o ser tornando – se
respectivamente questões da física, da psicologia e da biologia.
A separação não foi sinónimo de ruptura. A filosofia sempre acompanhou de perto o
desenvolvimento das ciências. Não adoptou a sua forma enfrentar problemas e de
os resolver – mas manteve – se atenta à sua atividade, colocando problemas
como, por exemplo, »O que é o método científico?», «Será que as ciências nos
dão o conhecimento da realidade?», « Como progride o conhecimento científico,
de forma contínua ou através de rupturas?».
Além de a filosofia não se ter desinteressado das
formas de saber que outrora viveram na sua casa, aconteceu – lhe algo muito
semelhante ao que aconteceu às ciências: a especialização. Pense numa área do saber como a biologia.
Há diversas subdivisões desta ciência: a biologia molecular, a genética, a bioquímica,
a biologia marinha, a biofísica, a biologia do desenvolvimento, etc. Um biólogo
não pode saber tudo sobre biologia, tal como um físico e um matemático não dominam na
totalidade as questões da física e da matemática. O campo de investigação é tão
vasto e complexo nestas áreas que ser especialista é quase uma tarefa de
Hércules.
A um filósofo
acontece o mesmo. A filosofia especializou – se. Dividiu – se em várias
disciplinas. Quem quiser ser especialista em lógica, em filosofia moral ou em
filosofia da religião – algumas das disciplinas filosóficas – tem uma vida de
trabalho que dificilmente deixa espaço e tempo para o domínio aprofundado de
outra área da filosofia. Assim, podemos olhar para o campo de investigação da
filosofia e encontrar diversas regiões conforme os problemas filosóficos
tratados.
Nas próximas
páginas aprenderá essencialmente o seguinte:
a) Que
tipo de problemas são estudados pelos filósofos e
b) O que caracteriza a forma de estudar esses
problemas.
Seja bem – vindo
ao mundo da filosofia. Aqui será livre de defender as suas ideias. Mas com uma
condição: deve fazê – lo com bons argumentos e aceitar que os outros avaliem os
seus argumentos, concordando com eles ou discordando.
O NOSSO PERCURSO
|
1.Apresentação de problemas filosóficos e identificação das
disciplinas filosóficas que os estudam.
2.Esclarecimento
de por que razão estes problemas são filosóficos, ou seja, o que distingue os
problemas filosóficos de outro tipo de problemas.
3.O método da
filosofia.
4.Caracterização da atitude filosófica.
|
1. Alguns problemas filosóficos e as
disciplinas que os estudam.
1.1. Será que somos livres? Escolhemos
realmente o que fazemos?
Suponha que é um brilhante
informático que realizou um feito extraordinário. Criou um andróide que parece
a encarnação das fantasias das obras e filmes de ficção científica, algo muito
semelhante ao andróide Commander Data da série Star Trek. Contudo, algo de
terrível acontece.
A sua extraordinária criação mata
um ser humano. Não conseguindo capturar o andróide, a polícia prendê – o a si.
É imediatamente acusado de assassínio. O Ministério Público considera-o
responsável pelo assassínio porque programou o andróide. Responde que o
programou para fazer escolhas decorrentes do seu livre-arbítrio. O acusador
declara que o andróide não podia eventualmente fazer livres escolhas porque as
suas decisões são o resultado directo 1) do modo como foi programado e 2) das
subsequentes modificações provocadas pelo ambiente.
Defende-se dizendo que se o
andróide não tem livre-arbítrio por causa da sua constituição de base e das
influências do meio, então os seres humanos também não têm livre-arbítrio. Os
seres humanos, tal como o andróide, são o resultado da influência de factores
genéticos (biológicos) e ambientais (sociais e culturais).
Tal como o andróide foi programado por si, assim os seres humanos foram
programados pelos seus genes e pelo meio em que cresceram e foram educados.
Está a defender que, se os seres humanos têm livre- arbítrio, então o andróide
também tem. Mas será esta afirmação correcta? Pode o andróide ser ao mesmo
tempo programado e livre para fazer as suas próprias escolhas? «Programado e
com livre-arbítrio» não é uma contradição nos termos? E nós, seres humanos, não
estamos no mesmo barco do andróide? Acreditamos que somos profundamente
influenciados pelos nossos genes e pelo meio. Mas também acreditamos que pelo
menos algumas das nossas escolhas e acções são livres. Podem estas duas crenças
ser verdadeiras? Não é uma a negação da outra?
Este é um dos grandes problemas da filosofia:
o problema do livre – arbítrio. Escolhemos realmente o que fazemos, somos os
autores das nossas decisões e acções ou isso não passa de ilusão? Não são as
nossas acções “programadas” pela herança genética que recebemos e pela educação
que nos deram? Não seremos o que os outros fizeram de nós?
A
disciplina filosófica que debate estes e outros problemas tem o nome de
Metafísica.
1.2. O que é agir
moralmente bem? Em que nos baseamos para distinguir o certo do errado?
Alberto sabe que Vicente é infiel à mulher. Mulherengo aparentemente incorrigível,
Vicente gaba-se junto dos amigos das suas várias incursões extramatrimoniais.
Esta ausência de escrúpulos morais é para Alberto extremamente indecente. A
mulher de Vicente é uma amiga de longa data que Alberto julga estar a ser
humilhada sem disso se aperceber. Debate-se então com um problema: se conta a
verdade à amiga, poderá causar-lhe um enorme desgosto; se decide não intervir,
torna-se conivente com as mentiras de Vicente. Alberto acaba por revelar a
verdade. Julga ser esse o seu dever, considerando que dizer a verdade é mais
importante do que causar um desgosto.
Será que Alberto agiu bem? Suponha que está de acordo com a decisão de
Alberto. Em que se baseia para aprovar essa decisão? Nas consequências da
acção? No dever de dizer a verdade?
O que é agir moralmente bem? Como distinguir o certo do errado? Esta é
uma das questões fundamentais de uma disciplina filosófica chamada Ética.
1.3. Por que razão devo pagar
impostos? É justo que o Estado me force a contribuir dessa maneira para a redução
das desigualdades e o bem – estar comum?
Todos
pagamos impostos direta ou indiretamente. Quando nascemos é – nos atribuído um
número de contribuinte. Mais tarde perceberemos porquê mas poderemos não
aceitar a justificação que eventualmente nos é dada. Repare que a questão é
esta: “Devo pagar impostos para reduzir o fosso entre ricos e pobres, para que
os que tem pouco possam viver melhor do que vivem?”. Em geral, não se põe em
causa que se paguem impostos para assegurar o ordenado dos funcionários do Estado
– administração pública, polícia, exército, etc.
Uma
das primeiras coisas de que nos apercebemos na vida é da desigualdade
económica. Uns são ricos, outros são pobres. Uns são muito ricos, outros são
muito pobres. Uns deitam fora comida, têm belas casas e carros, outros morrem
de fome. Há quem considere injusta esta situação e defenda que as pessoas que
mais ganham e as que ganham o suficiente devem contribuir, mediante os
impostos, para ajudar os pobres ou os menos favorecidos em talento, capacidade e
oportunidades. Há estudantes talentosos mas que devido a dificuldades
económicas não tem meios para prosseguir os estudos. Não será justo ajudá –
los? Há pessoas que afetadas por doenças não têm meios para pagar tratamentos e
remédios. Não será justo forçar os que podem contribuir, nas devidas
proporções, a ajudar quem precisa?
Isto
parece óbvio mas há quem veja com desagrado a obrigação de contribuir nestes
casos. Forçar os que estão em condições de o fazer, a pagar impostos para
assegurar serviços como a segurança social, cuidados médicos e apoio aos
estudos de estudantes carenciados, parece – lhes uma violação do direito de
cada um ao que é seu e adquiriu por meios legítimos e com mérito. Para estas
pessoas, o que está em causa é a liberdade individual. Deve ser cada indivíduo
a sensibilizar – se com a pobreza, o sofrimento e as carências dos outros e a
contribuir por sua iniciativa. Cada
qual tem o direito de fazer o que quiser com o que é seu. A solidariedade não
deve ser ordenada, imposta, forçada.
Este
desacordo sobre a obrigatoriedade dos impostos tem a ver com um importante
problema filosófico: “Quais devem ser as funções do Estado? Intervir o máximo
possível na vida dos cidadãos regulando – a em muitos aspectos ou limitar – se
a fiscalizar o cumprimento de contratos, a proteger as pessoas da violência e
do roubo, por exemplo?”. Mas há um problema ainda mais profundo e relevante que
está ligado a esta questão. Qual? O problema da relação entre o Estado – o
governo sobretudo – e a liberdade individual. Ser forçado a pagar impostos para
assegurar a distribuição da riqueza não é uma violação ilegítima da liberdade
individual?
Este
problema é debatido pelos filósofos que se dedicam à Filosofia Política.
Outras
questões tais como: “ Devo obedecer sempre ao que o Estado
ordena?”, “Deve o Estado transformar em lei as convicções morais da maioria?”,
“Deve o Estado impedir que uma pessoa faça mal a si própria?”, “ O que deve o Estado
defender mais? A liberdade individual ou a segurança coletiva?” são também
muito importantes em Filosofia Política.
1.4. O que faz de uma
coisa uma obra de arte?
“Guernica”de Picasso.
NOTA – No You Tube há
um excelente documentário em inglês sobre o famoso quadro Guernica. Não tem
legendas. O link é: http://www.youtube.com/watch?v=vCONk349Yo0&feature=related
Ao olhar para este quadro muitas pessoas não verão
aquilo que é costume associar a uma obra de arte: a beleza. Tudo parece
disforme, confuso, desagradável. Mas será que uma obra de arte tem de ser bela
para ter valor artístico? O feio, o desagradável não têm direito a um lugar no
mundo da arte? E o que é a beleza? Quando consideramos artística uma
determinada obra, o que queremos dizer com isso? De que depende esse valor
artístico que não reconhecemos a outras obras?
A célebre obra acima exposta – uma das mais famosas de sempre - é uma manifestação de revolta contra a
crueldade e visava defender a causa republicana contra os franquistas. Será que
é a esse facto que deve a sua importância na história da arte? Uma obra tem de
desempenhar um papel social, político ou moral para, juntamente com as suas
qualidades próprias ou internas, ser qualificada como obra de arte? Picasso
afirmava que um pintor não era um idiota que pintava para decorar as paredes
das casas de quem compra obras de arte. Pensava que uma obra de arte devia ter
uma função social e política. Mas será que tem razão? O valor artístico de uma
obra depende de ser um meio para um certo fim? Se, por exemplo, uma obra
desagradar à moral estabelecida é correcto dizer que perde por isso mesmo o seu
valor artístico ou que ele diminui perante outras obras?
Estas e outras questões são debatidas numa disciplina filosófica
intitulada Filosofia da arte.
1.5. A existência de Deus é compatível com o
mundo cheio de desgraças e crimes que ele supostamente criou?
Num universo presumivelmente governado por um Deus benevolente e
todo-poderoso, como foi possível um acontecimento tão medonho como o extermínio
de aproximadamente seis milhões de judeus – entre outros milhões – levado a
cabo pelos nazis?
Num filme documental da BBC esta é a pergunta angustiada e revoltada
feita por vários prisioneiros judeus cujo destino será muito brevemente a morte
nas câmaras de gás. Um Deus que permite tal coisa não é incrível? Pode – se
acreditar na sua existência quando o drama terrível vivido pelos condenados à
morte em Auschwitz aponta para a sua ausência e, bem pior, caso exista, para a
sua cruel indiferença?
O cenário é dramático e as perguntas pesadas e graves: Se Deus permitiu
o Holocausto fez de Hitler – a encarnação do mal – o seu instrumento? Por que
razão quebrou Deus a Aliança com o seu povo (os judeus consideram – se o povo
escolhido)? Será que este extermínio é um sacrifício querido por Deus para
purificar o seu povo? Ou será, como o sugeriu Primo Lévi – um sobrevivente de
Auschwitz - , a prova de que Deus tal como o entendem os teístas, não
existe? Sentindo que o seu extermínio é
uma questão de horas ou de dias, alguns prisioneiros decidem colocar Deus no
banco dos réus.
NOTA NA MARGEM – No You Tube encontra – se legendado o filme God on
Trial – o Julgamento de Deus. O Link é: http://www.youtube.com/watch?v=tFGVoNxIx1g
A existência do mal torna problemática e, para
muitas pessoas, inadmissível a existência de um Criador omnipotente,
omnisciente e bondoso.
Vários filósofos têm desenvolvido argumentos a
favor e contra a conclusão do «argumento do mal».
Este é um dos mais importantes problemas de uma
disciplina filosófica intitulada Filosofia
da Religião.
No
quadro seguinte encontra outros problemas filosóficos e outras disciplinas
filosóficas que deles tratam. Tivemos o cuidado de apresentar anteriormente
aquelas disciplinas cujos problemas fundamentais irão ocupar – nos no 10º ano.
ALGUMAS DISCIPLINAS FILOSÓFICAS
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ÉTICA OU FILOSOFIA MORAL
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FILOSOFIA DA RELIGIÃO
|
FILOSOFIA POLÍTICA
|
Disciplina que procura responder ao problema de saber como devemos
viver. Esta questão é habitualmente dividida em duas questões menos gerais:
1) Como distinguir uma acção moralmente correcta de uma incorrecta?
2) O que devemos fazer da nossa vida para a tornar boa ou valiosa?
A estas questões responde uma
área da ética chamada «ética
normativa».
Outra área da filosofia moral é a metaética.
Propriamente falando, não coloca questões éticas, mas sobre a ética. Alguns
problemas desta área são os seguintes:
1 – Qual a natureza dos nossos
juízos morais? São objectivos ou subjectivos? Podemos dizer que são
verdadeiros ou falsos? Há juízos morais em si mesmos verdadeiros ou será que
a sua avaliação varia conforme as crenças estabelecidas em cada sociedade? 2
- Será que a moralidade depende de Deus?
3 - Por que razão devemos agir moralmente?
Finalmente, os problemas morais concretos pertencem a uma área da
filosofia moral chamada «ética
aplicada». Eis alguns desses problemas:
1 - O que é uma guerra justa? Haverá guerras justas?
2 - Ajudar as pessoas pobres é nossa obrigação moral?
3 - A pena de morte é
moralmente justificável?
DIFERENÇA EM RELAÇÃO
ÀS CIÊNCIAS
O antropólogo, por exemplo, estuda e compara as diversas crenças
morais de diferentes sociedades, enquanto o filósofo coloca questões mais
gerais e fundamentais, a saber: «Como decidir o que é correcto e errado?
Haverá verdades morais objectivas? A ética é relativa ou haverá verdades
morais independentes das preferências individuais e das várias culturas?
|
Disciplina que analisa os conceitos fundamentais e as crenças religiosas
básicas interrogando-se sobre a sua verdade e justificação. Eis alguns
problemas típicos:
1 - Deus existe?
2 - O mal que há no mundo é compatível com a existência de Deus?
3 - São os milagres provas credíveis da existência de Deus?
4 - Até que ponto a fé religiosa deve estar ao abrigo de discussão?
DIFERENÇA EM RELAÇÃO
ÀS CIÊNCIAS
A sociologia da religião, por
exemplo estuda as crenças religiosas
das diversas populações do mundo. Mas uma coisa é estudar tais crenças e
outra é perguntar se elas têm justificação.
|
Disciplina filosófica que, em estreita ligação com a ética, reflecte
sobre a natureza, funções e legitimidade da autoridade do Estado na sua
relação com os cidadãos. Esta reflexão gera questões mais específicas como as
seguintes:
1 - O Estado é um bem? É um mal menor? É necessário ou poderíamos
dispensá-lo?
2 - Até que ponto é legítima a
intervenção do Estado e da sociedade na vida dos indivíduos?
3 - Qual é o valor político fundamental? A liberdade, a igualdade, a
justiça ou a
segurança e coesão sociais? Se é a liberdade, até que ponto devemos
obedecer às leis do Estado? Se é a igualdade, como deve o Estado promovê-la?
4 - O que é uma sociedade justa?
DIFERENÇA EM RELAÇÃO
ÀS CIÊNCIAS
Repare que enquanto o cientista político analisa, por exemplo, as
diversas formas de governo, o filósofo pergunta «O que torna um governo
legítimo e justo? Quais são os limites da sua autoridade? Temos o dever de
lhe obedecer sempre?»
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FILOSOFIA DO CONHECIMENTO
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LÓGICA
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METAFÍSICA
|
Disciplina que se
interroga sobre a natureza, origem, limites e justificação das nossas
crenças. Eis algumas das suas questões:
1 - O que é o conhecimento?
2 - Será apenas uma crença
verdadeira devidamente justificada?
3 - Como sabemos o que é a verdade? Com que critério podemos
distinguir a verdade da falsidade?
4 - Será que o conhecimento
depende fundamentalmente da experiência ou da razão?
DIFERENÇA EM RELAÇÃO
ÀS CIÊNCIAS
Enquanto os cientistas das mais diversas áreas procuram aumentar o
nosso conhecimento dos factos históricos e naturais, o filósofo interroga-se
sobre o que é o conhecimento, como o adquirimos, qual a sua extensão, se há
verdades objectivas ou se tudo é relativo, o que distingue o conhecimento
científico de outros tipos de conhecimentos, etc.
|
É a disciplina que estuda em que condições os nossos
argumentos são válidos.
Eis várias
questões típicas:
1 – O que é um argumento?
2 – Que tipos de
argumentos existem?
3 – Em que
consiste a validade de um argumento? Apesar de válido não ser sinónimo de
verdadeiro será que um argumento válido nada tem a ver com a verdade?
4 – O que
distingue a validade dedutiva da validade indutiva? A verdade das premissas
garante sempre a verdade da conclusão?
5- Para que um
argumento seja bom, persuasivo e convincente é suficiente que seja válido?
DIFERENÇA EM RELAÇÃO
ÀS CIÊNCIAS
A psicologia estuda o pensamento como
processo mental procurando determinar que regiões cerebrais estão mais
envolvidas nessa atividade.
|
Disciplina que
estuda os aspectos mais gerais da realidade. Eis algumas questões metafísicas:
1- Será que a vida faz sentido?
2 -Temos livre-arbítrio?
3 - O que é a realidade? Uma
pedra, o valor de uma mercadoria e um sonho são igualmente reais? Há
critérios seguros para distinguirmos as aparências da realidade?
DIFERENÇA EM RELAÇÃO
ÀS CIÊNCIAS
É tarefa do físico estudar os constituintes últimos da realidade
física tais como os átomos, os quarks e os neutrinos. Mas não se ocupa com
uma questão como «É a realidade física tudo o que existe?». Essa questão é própria
do filósofo. Se a neurobiologia estuda a atividade do cérebro e a sua
influência sobre o comportamento e os processos mentais, o filósofo
interroga-se sobre a relação entre o físico e o mental perguntando se os
estados mentais nada mais são do que fenómenos do cérebro.
|
2.Que tipo de
problemas estudam os filósofos? O que são problemas filosóficos?
Demos exemplos de
problemas filosóficos. Trata – se agora de mostrar por que razão os referidos
problemas são filosóficos. Alguns dos exemplos dados servirão para o nosso
propósito.
2.1. Os problemas filosóficos não são
problemas empíricos e não têm solução científica.
Consideremos o
seguinte problema: «Será que Deus existe?». Procuremos uma resposta junto das
ciências da natureza – a física, a química e a biologia - e das ciências
sociais e humanas – a psicologia, a história, a sociologia, etc. Não a
encontraremos. Alguns cientistas da natureza podem mesmo acreditar que Deus
existe mas reconhecem que a observação e a experimentação não são meios adequados
para tratar o problema. Não podem provar nem que Deus existe nem que Deus não
existe. O mesmo acontece com as ciências sociais e humanas. Quando muito podem
tentar esclarecer a história da ideia de Deus, a importância psicológica da
crença num ser omnipotente, o modo como é adorado nas diversas sociedades e
qual o papel das religiões na vida das sociedades mas a questão «Será verdade
que Deus existe?» não obtém resposta. Porquê? Porque não se trata de um
problema empírico, ou seja, de um problema que poderíamos tentar resolver
recorrendo a métodos que envolvem a observação, a experimentação e a análise de
documentos.
Poderemos
responder ao problema mediante fórmulas e equações matemáticas? Também não. A
existência de Deus não é um problema matemático. Não o encontramos nem mesmo
formulado em nenhum manual desta disciplina.
Pense em outras
questões como estas:
1.«O
universo físico é tudo o que existe?»
2.«Uma
ação é boa por causa das consequências ou devido à intenção que está na sua
origem? Como distinguir uma ação boa de uma acção incorreta?».
3.«Há
normas morais objetivas e universais ou é tudo relativo? ».
4.«Somos
livres ou as nossas ações estão determinadas pela educação que recebemos e pelo
património genético que herdámos?».
5.«É
correto dizer que os animais têm direitos?».
Se a questão «Será
que Deus existe?» não pode ser resolvida através da observação, da
experimentação ou do raciocínio matemático, o mesmo acontece com os problemas
acima apresentados. Não são problemas
empíricos como os das ciências da natureza e os das ciências sociais e humanas.
SÍNTESE
|
1 – Os problemas filosóficos não são empíricos.
Nenhum
instrumento científico, nenhuma experimentação permitem resolver um problema
filosófico.
2 - Os problemas filosóficos não são problemas matemáticos.
Os problemas filosóficos são problemas cuja resposta é
dada fundamentalmente pelo pensamento. Mas a matemática resolve também os
seus problemas recorrendo exclusivamente ao pensamento e ao raciocínio. Será
que os filósofos não resolvem os seus problemas recorrendo à matemática?».Não.
A filosofia não recorre como a matemática a métodos formais de demonstração
nem a cálculos para resolver os seus problemas. É uma afirmação bastante
óbvia. Basta pensar que problemas como o da existência de Deus ou o da
moralidade do aborto não são de modo algum problemas matemáticos. Em
filosofia não se usam equações e cálculos para responder a problemas.
3 – Os problemas filosóficos são problemas que não têm solução
científica.
Se nem as
ciências empíricas – naturais e sociais e humanas – nem a matemática podem dar resposta aos problemas filosóficos,
devemos concluir que a filosofia não é uma ciência e que as suas questões não
podem ter uma resposta científica.
|
A filosofia tem por objectivo o exame crítico dos conceitos e ideias
que, como vai ver, usamos na ciência, na arte, na religião, na moral, na
política e no nosso quotidiano. Não produz
um alargamento do nosso conhecimento de factos. Como não contribui com mais
conhecimentos para o conjunto de conhecimentos que se formam nas outras
atividades humanas, a filosofia parece não ter importância para a nossa ação no
mundo. Daí a pensar – se que despreza os factos vai um pequeno passo. Nada mais
falso. Para o provar considere o seguinte argumento:
1-Se Deus é perfeito, então tudo o que ele criou é perfeito.
2-Ora o mundo é imperfeito dado que há muito sofrimento, muita
fome e cada vez menos recursos naturais.
3-Logo, Deus não é perfeito.
Neste
argumento – cuja validade não interessa agora discutir - a premissa 2 é constituída por informação
empírica relevante para a argumentação. Como pode Deus ser perfeito se vemos que o mundo por ele criado é
imperfeito?
Embora a
informação empírica não nos dê uma resposta conclusiva a um problema
filosófico, ela desempenha um papel importante. Na verdade, não é possível
argumentar de forma racionalmente persuasiva acerca da moralidade do aborto, da
eutanásia, da clonagem sem informação empírica. Não é possível defender que
devemos ser vegetarianos se não tivermos dados empíricos credíveis que mostrem
que o consumo de carne é dispensável.
Até agora
mostrámos que os problemas filosóficos são problemas não – empíricos para os quais não há
resposta ou solução científica. Dissemos que não são problemas científicos nem
empíricos. Mas em vez de nos limitarmos a dizer o que a filosofia não é
tentaremos dizer o que é.
Atividade 1
I
Ao longo da sua história, o
ser humano colocou um vasto número de questões acerca de si mesmo e do
universo. Eis uma lista de algumas dessas questões. Tente identificar as
perguntas que, em certa medida, já estão resolvidas e aquelas que não obtiveram
resposta nem por parte das ciências naturais nem no campo das ciências sociais
e humanas. Das questões que não obtiveram resposta assinale as que lhe parece não
poderem ter resposta científica. Essas são os problemas filosóficos. Recorra,
escusado será dizer, ao auxílio e às sugestões da sua professora ou do seu
professor. Note que não precisa de responder às questões.
1.Qual é a idade da Terra?
2. Como circula o sangue pelo
corpo humano?
3. A morte é o fim de tudo?
4.O que é a justiça?
5. Fui criado por Deus?
6.É correcto matar animais para os
comermos?
7. O que devo fazer para não contrair SIDA?
8. As lesões cerebrais provocam alterações de
personalidade?
9. Será que graves deficiências de nutrição na
infância impedem um desenvolvimento adequado da inteligência?
10. Somos livres ou a liberdade é uma ilusão? Será
que podemos ser responsabilizados pelas nossas acções se não formos livres?
11. Se há Deus, então por que
existem doenças, guerras, fome e miséria?
12. Os seres humanos são tão
antigos como o planeta em que vivem?
13. Há vida extraterrestre?
14. A pena de morte é moralmente
correcta?
15. O que faz da Monalisa de
Leonardo da Vinci uma obra de arte?
16.Será que a vida tem sentido ou a
morte torna absurdo tudo o que fazemos e projetamos?
17. Será que algum ser humano vai
conseguir viver até aos 250 anos?
18. Temos direito à vida antes de
nascer?
As questões 3,4,5,6,10,11,14,
15,16 e 18 são problemas filosóficos.
II
Indique as disciplinas
filosóficas que tratam dos seguintes problemas.
1.Será
que é justo o Estado cobrar impostos tirando aos mais ricos para socorrer os
mais pobres?
2.Como
compatibilizar a crença num Deus bom e omnipotente com a existência de mal e
sofrimento no mundo?
3. Os
problemas morais são uma questão de opinião pessoal?
4. Que
características deve um conhecimento possuir para ser considerado científico?
5. As
acções são boas em si mesmas (independentemente das consequências) ou o seu
valor depende dos resultados?
6.
Temos uma alma que sobreviverá à morte do corpo ou que deixará de existir assim
que o corpo morrer?
7.
Temos o dever de ajudar os outros ou a nossa única obrigação moral é não os
prejudicar?
8.
Temos o direito de antecipar a nossa morte ou de morrer por nossa vontade?
1. R: Ética e
Filosofia Política;2. R: Filosofia da Religião ;3. R: Ética.4. R: Filosofia da ciência;5. R: Ética;6. R: Metafísica e Filosofia da
Religião ;7. R: Ética ;8. R: Ética.
2.2. Os problemas
filosóficos nascem da reflexão sobre certos conceitos gerais ou fundamentais
que estão ligados a atividades como a arte, a moral, a política, a religião e a
ciência.
Produzimos obras
de arte. Criamos normas que definem o que é correcto ou errado, permitido ou
proibido. Construímos templos como sinagogas, igrejas e mesquitas onde mediante
rituais estabelecidos manifestamos a nossa fé num Ser Supremo. Organizamos a
nossa vida em sociedade criando regras para a distribuição da riqueza e dos
bens, para o modo como podemos participar nas suas grandes decisões políticas.
Procuramos conhecer o universo não só para fazer recuar a fronteira do
desconhecido como também para melhorar a nossa vida aqui.
Arte, moral,
religião, política e ciência são algumas das mais importantes atividades que
ocupam os seres humanos. Em todas essas atividades
são usados alguns conceitos muito gerais. Na atividade científica são
utilizados conceitos fundamentais como conhecimento,
realidade, verdade. O filósofo perguntará em que consiste o conhecimento,
como se pode alcançar um conhecimento objectivo e se na verdade estamos a
conhecer a realidade. Na atividade artística usamos conceitos como arte, génio, belo, sublime, etc. O
filósofo perguntará o que faz de uma coisa uma obra de arte, o que torna uma
coisa bela e o que é o génio artístico. Na atividade política usamos conceitos
como estado, justiça e igualdade. O
filósofo perguntará o que é o estado, se é necessária a sua existência, até que
ponto é legítimo que intervenha na nossa vida, se podemos e quando podemos
desobedecer às suas leis, se justiça é sermos todos iguais, etc. Na vida moral
usamos conceitos como bem e mal,
intenção e consequências. O filósofo perguntará o que é o bem, o que é o
mal, o que distingue uma acção boa de uma acção má, que ligação há entre a
intenção, as consequências e o valor moral de uma acção.
2.3.
Os problemas filosóficos nascem quando transformamos em interrogações
certas crenças básicas ou fundamentais.
Além de não terem solução científica, os problemas
filosóficos estão ligados às nossas crenças mais básicas ou fundamentais. Em que consiste essa ligação? Em
transformar essas crenças em problemas. Assim, há quem acredite que Deus existe
e quem acredite que Deus não existe. Esta incompatibilidade de crenças
transforma – se no problema «Será que Deus existe?».
O QUE SÃO CRENÇAS BÁSICAS OU FUNDAMENTAIS?
|
O que é uma crença? Podemos dizer que é
uma opinião ou um conhecimento que consideramos verdadeiro. Não se deve confundir crença com fé, que é apenas uma forma religiosa
de crença. O que são crenças básicas ou fundamentais? São crenças cuja
verdade ou falsidade determina a verdade ou falsidade de outras crenças que
delas dependem. São semelhantes aos alicerces de um edifício. A crença
fundamental de várias religiões é a de que Deus existe. Se esta crença for
falsa, então outras crenças que dela dependem tornar-se-ão falsas ou pelo
menos terão de ser revistas. É o caso da crença de que a moralidade das
nossas acções consiste em cumprir a vontade de Deus expressa num dado número
de mandamentos. Acreditamos que temos de ser responsabilizados pelas acções
que praticamos livremente. Esta crença tem na sua base uma outra. A crença de
que somos livres. Se esta crença for falsa então ficamos com um problema: como
responsabilizar alguém por algo que não dependeu da sua vontade?
|
Há quem afirme que
o aborto é moralmente correcto e quem acredite que é moralmente incorreto. Esta
incompatibilidade de crenças transforma – se no problema «Será que o aborto é
moralmente legítimo?».
Há quem acredite
que não temos o direito de tratar os animais como, na maioria dos casos, o
fazemos – matando – os para os comer, usando – os em experimentações e em
espetáculos que os fazem sofrer – e quem
julgue temos o direito de os tratar como bem entendermos em nosso benefício.
Estas duas crenças inconsistentes ou incompatíveis uma com a outra dão origem
ao problema «Será que os animais têm direitos, temos obrigações morais a seu
respeito?». Acreditamos que somos livres – que as nossas acções não escapam ao
controlo da nossa vontade – mas também parece haver boas razões para pensar que
não somos livres (que as nossas acções não são controladas pela nossa vontade).
Assim surge mais um problema filosófico: «Será que somos livres ou as nossas
acções são completamente determinadas por fatores que não controlamos?».
SÍNTESE
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OS PROBLEMAS FILOSÓFICOS E A SUA NATUREZA: O QUE SÃO?
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1
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SÃO PROBLEMAS NÃO - EMPÍRICOS
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As respostas aos
problemas filosóficos não podem ser obtidas através do uso instrumentos
científicos sofisticados, como telescópios, sondas espaciais, tubos de
ensaio, submarinos, instrumentos variados de registo, etc. A experiência e a
experimentação não podem ajudar – nos a resolver os problemas da filosofia.
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2
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SÃO PROBLEMAS
SEM SOLUÇÃO CIENTÍFICA DISPONÍVEL OU QUE NUNCA TERÃO RESPOSTA CIENTÍFICA.
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Questões como: «Será que Deus existe?»;«Podemos
responsabilizá – lo pelo mal que existe no mundo?»;«Pode a nossa vida ter
sentido mesmo que a morte seja inevitável e definitiva?»; «O que devemos
procurar ser nesta vida? Haverá algum valor superior a todos os outros?» são
problemas que não podem ser resolvidos mediante os métodos de investigação e
de demonstração das ciências.
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3
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SÃO PROBLEMAS
MUITO GERAIS
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O que
caracteriza a as questões filosóficas é a sua grande generalidade – embora
haja umas mais gerais do que outras. Uma questão como «O que é o conhecimento
e como é ele possível?» é muito mais geral e radical do que problemas
próprios das ciências biológica e psicológica, nomeadamente « Qual a
influência da nossa constituição genética no nosso desempenho intelectual?»
ou «Será que poderemos algum dia determinar seguramente qual o papel da
hereditariedade no nosso comportamento?».
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4
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SÃO PROBLEMAS
ABERTOS
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Uma questão fechada é uma questão cuja resposta
obtém o acordo e o consenso racional da maioria das pessoas ( «Quantos
satélites tem a terra?» é um exemplo). Todos os problemas filosóficos são
questões abertas. As respostas a tais questões não satisfazem todos os entendidos.
Pessoas razoáveis discordam quanto ao que será a resposta verdadeira ou mais
razoável.
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5
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SÃO PROBLEMAS
QUE RESULTAM DA REFLEXÃO SOBRE OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM QUE SE BASEIAM
VÁRIAS ACTIVIDADES HUMANAS.
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Atividades
A arte, a moral, a
política, a religião, etc.
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Conceitos básicos ou muito gerais que estão ligados a essas
atividades Arte, beleza, bem, mal, justiça,
igualdade, etc.
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Questões filosóficas:
- O que faz com que os quadros de
Picasso sejam obras de arte? Uma obra tem de ser bela para ser artística? O
que é a beleza? A arte deve cumprir uma função educativa no plano moral e
social para ter valor?
- De que depende a correção moral de
uma acção? Dos resultados ou da intenção? É correcto sacrificar uma pessoa para
salvar outras? O que conta mais, os nossos direitos ou os interesses da
sociedade? Há direitos que todas as pessoas devem ter sejam o que forem e
vivam onde viverem? Devemos dizer sempre a verdade?
-O que é o Estado? É um bem ou um mal
necessário? O que deve ter mais importância, a segurança ou a liberdade? A
liberdade de expressão deve ter limites? Quais? Porquê? Devo obedecer sempre
às leis do Estado? Em que situações não devo obedecer? Até que ponto deve o
Estado governar a minha vida e intervir nela? Como distribuir a riqueza que
uma sociedade produz para que haja justiça social? De forma igualitária ou
respeitando as desigualdades entre os indivíduos? Neste último caso, que grau
de desigualdade é admissível e correcto?
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6
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SÃO PROBLEMAS
QUE SURGEM DE CRENÇAS INCOMPATÍVEIS ACERCA DE CERTAS QUESTÕES BÁSICAS OU
FUNDAMENTAIS.
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«Deus
existe».
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«Deus não
existe»
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«Temos livre
– arbítrio»
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«Não temos
livre – arbítrio»
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«É justo pagar impostos»
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« Os impostos são um roubo»
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«As boas
intenções fazem boas as acções»
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« A árvore
conhece – se pelos frutos»
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Problema filosófico
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Problema
filosófico
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Problema
filosófico:
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Problema
filosófico
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«Será que Deus existe?»
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« Será que temos livre – arbítrio?».
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« O que é a justiça? É justo pagar impostos?».
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«De que
depende a correcção moral de uma acção? O que a torna boa?».
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ATIVIDADE 2
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TEXTO 1
A filosofia é o
pensamento crítico acerca de crenças básicas ou fundamentais.
Há mais do que uma ideia acerca da natureza da filosofia mas para simplificar
apresentaremos a seguinte definição operacional de filosofia: a
filosofia é o pensamento crítico acerca de crenças básicas ou fundamentais. O objeto de estudo da filosofia são
essas crenças. Uma crença é uma ideia ou pensamento que pode ser expresso
através de uma proposição. “A terra é plana” é uma crença, embora falsa. “ A
coisa correta a fazer é defendermos sempre os nossos interesses” é uma crença
moral. Temos crenças de senso comum, científicas, religiosas e outras.
A
filosofia não tem como objeto de estudo todas as crenças mas unicamente
aquelas que são básicas. Uma crença é básica se a sua verdade ou falsidade
determina a verdade ou falsidade de outras crenças. Tal como um fraco alicerce põe em risco todo o edifício, também uma
crença fundamental que seja falsa põe em causa todo o conjunto de crenças que
dela dependem. Por exemplo, e falando em geral, a crença fundamental da
religião é a crença de que Deus existe. Sobre esta crença assentam outras
tais como a ideia de que Deus é quem distingue o Bem do mal – a moral
dependeria da religião – ou a crença de que Deus tem um propósito para a
nossa vida e que só o cumpriremos obedecendo aos seus mandamentos. Se a
crença na existência de Deus for falsa, então as outras deixam de ter suporte
e apoio. A estas crenças fundamentais dá – se por vezes o nome de “grandes
questões” ou “problemas fundamentais”.
Algumas
destas crenças básicas estão implícitas no modo como todos os dias pensamos e
agimos. Estas crenças são formas de orientar a nossa relação com o mundo e
são necessárias para que a nossa vida funcione. Contudo, raramente são
explicitadas e clarificadas e, muito menos, examinadas criticamente. Consegue
imaginar como seria a sua vida se, num dado momento, deixasse de acreditar
que Deus existe? Mudaria a sua relação com outras pessoas e com instituições
religiosas. Poderia, por exemplo, pensar que a vida deixava de ter sentido
por não haver a esperança de um outro mundo e de uma outra vida depois desta.
Fosse qual fosse a sua reação, a verdade é que teria de reformular a sua
posição perante algumas questões fundamentais da existência.
Toda e qualquer atividade humana se baseia em certas crenças
fundamentais. Toda a ciência tem crenças básicas sobre as quais constroem as
suas teorias. O mesmo acontece com a arte e a política.
As crenças que vamos estudar neste primeiro ano de introdução ao
pensamento filosófico relacionam – se mais com a nossa vida quotidiana do que
com a ciência. O nosso objeto de
estudo serão as crenças que desempenham um papel importante na vida
quotidiana dos seres humanos e que são como que “acordadas” quando algumas
circunstâncias as colocam em questão e exigem que sejam examinadas. Assim,
quando alguém morre e nos sentimos afectados, podemos de forma intensa
interrogar – nos se tudo acaba ali ou se haverá uma continuidade da vida que
neste mundo terminou. De modo semelhante, podemos questionar se pessoas que
cometeram crimes horríveis agiram livremente ou foram vítimas das
circunstâncias e de profundas
perturbações emocionais.
A discussão e exame destas ideias têm um objetivo claro: desenvolver a
sua capacidade de problematização e de argumentação filosófica.
Thomas F. Wall,
Thinking Critically about Philosophical Problems, Wadsworth, p.3.
1
Segundo o texto, o que é
a filosofia?
R: Segundo o texto a filosofia é o pensamento crítico acerca de crenças básicas ou
fundamentais.
2
A filosofia é o estudo de todo o tipo de problemas. Esta afirmação, de
acordo com o texto lido, é verdadeira? Justifique.
R: Não. A filosofia não tem como objeto de estudo
todas as crenças mas unicamente aquelas que são básicas ou fundamentais.
Crenças como a de que Deus existe, que escolhemos realmente o que fazemos –
que somos realmente livres - , que há valores morais absolutos, que a arte é
expressão de emoções, que a justiça é incompatível com a desigualdade, que só
os seres humanos têm direitos, etc.
3
O que são crenças básicas ou fundamentais?
R: São crenças em que outras se apoiam e de cuja
verdade dependem. Considere – se a crença de que somos livres, ou seja, de
que agindo de uma certa forma poderíamos ter agido de outra. Da verdade desta
crença depende a ideia de responsabilidade moral e a ideia de dever. Não sou
genuinamente responsável por uma ação que não pude evitar. Não faz sentido falar
de dever a quem não pode agir de outra maneira tal como a árvore arrancada
pelo vento que desaba em cima de uma casa. Que deva ser honesto implica a
possibilidade de ser desonesto. Só há deveres para quem pode não os cumprir.
4
A filosofia é o estudo das
nossas crenças (ideias, convicções)) mais básicas e fundamentais e por isso
mesmo limita-se a estudar problemas de tipo religioso. O texto que leu permite
uma tal afirmação? Justifique.
R: Não. O texto diz que
temos crenças de senso comum, científicas, religiosas e outras. Se as únicas
crenças estudadas fossem as religiosas então a filosofia seria unicamente
filosofia da religião e sabemos que há mais problemas que interessam aos
filósofos.
|
Temos de filosofar para aprender filosofia
A filosofia é diferente de muitas
outras disciplinas porque para estudar filosofia temos de filosofar. Para ser
um historiador da arte não precisa de saber pintar; para estudar poesia não é
necessário ser poeta; Pode estudar música mesmo que não saiba tocar qualquer
instrumento. Contudo, para estudar filosofia tem de praticar a argumentação
filosófica ( saber justificar como chegou a certas conclusões). É evidente
que não se pede que filosofe ao nível dos grandes filósofos: mas ao estudar
filosofia, estará a fazer o mesmo que eles. Pode jogar futebol sem atingir o
nível de um Messi ou de um Cristiano Ronaldo e pode filosofar sem atingir o
grau de brilhantismo e de criatividade de um Platão, de um Kant ou de David
Hume. Em ambos os casos, apesar das diferenças de grau, está a desenvolver e
a aperfeiçoar algumas das aptidões e formas de pensar dos grandes filósofos.
A palavra
“filosofia” deriva da palavra grega que significa “amor da sabedoria”. Mas
esta origem etimológica não é particularmente esclarecedor sobre o que é a
filosofia. A filosofia é uma disciplina que se ocupa de questões abstractas
tais como “ Será que Deus existe?”, “Como devemos viver?”, “O que é a arte?”, “ Temos genuina liberdade de
escolha?”, “Será o mundo material tudo o que existe?”, etc.
Estas
questões podem ser despoletadas pela nossa experiência quotidiana. Algumas
pessoas mal informadas ou de má – fé caricaturam a filosofia como algo que
não desempenha qualquer papel relevante nas nossa vidas, como se fosse um
passatempo intelectual ou académico. Mas esta é uma visão muito deturpada da
disciplina. Por exemplo, em certos países discute – se acesamente se o boxe
deve ser banido. Este problema só será devidamente abordado se colocarmos
algumas questões filosóficas, mais fundamentais: “Quais são os limites da
liberdade individual num país civilizado?”; “Como justificar que se forcem as
pessoas, para o seu suposto próprio bem, a agirem de uma certa maneira?”. Vê
– se que um problema que parece nada ter a ver com a filosofia, acaba por
trazer para primeiro plano crenças e interrogações filosóficas.
Nigel Warburton http://www.open.ac.uk/Arts/philosophy/whatis.shtml(adaptado)
|
3. O método da
filosofia.
O que caracteriza a filosofia é a
discussão e análise de ideias, de crenças ou convicções que todos temos mas que
muitas vezes não submetemos a exame crítico. As nossas ideias e crenças são
para os filósofos problemas e não verdades indiscutíveis.
O que fazem os filósofos? Primeiro identificam
e esclarecem que problemas são filosóficos. Feito isso, tentam responder a
esses problemas. Que instrumentos usam para tentar alcançar as respostas? Os
argumentos e as teorias.
Na maior parte das
ciências, e mesmo na maior parte das atividades humanas, é possível testar
empiricamente as teorias que construímos. Se, por exemplo, o nosso carro se
recusar a pegar, podemos construir a teoria simples de que a razão disso está
na falta de bateria. Para testar esta teoria basta substituir a bateria por uma
em condições ou recorrer a uma oficina onde, com os instrumentos apropriados,
seja possível verificar se a nossa teoria é ou não correcta. O processo, na sua
essência, não é muito diferente, mesmo em ciências como a paleontologia, que
procura a partir do estudo de fósseis de organismos que viveram há muitos
milhões de anos, compreender como eram esses organismos e o nosso planeta. Por
exemplo, se alguns paleontólogos formulam, como na realidade formularam, a
teoria segundo a qual a extinção dos dinossauros se deve à conjugação há 65
milhões de anos atrás de um período de intensa atividade vulcânica com a queda
de um meteorito de grandes dimensões na Terra, o que levou a uma alteração
radical das condições ambientais em todo o planeta e à extinção de muitos
organismos que não estavam preparados para viver nas novas condições, é
possível — pelo menos, é teoricamente possível — pela recolha e estudo
diligente de indícios, mais tarde ou mais cedo saber se a teoria é ou não
correcta. Mas com os problemas filosóficos as coisas não são assim. Como
certamente já sabe, a filosofia trata de problemas que pela sua própria
natureza não podem ser resolvidos com o recurso a estratégias e instrumentos
empíricos. Assim, na discussão dos problemas e das teorias filosóficas, a
argumentação tem um papel de grande relevo.
A filosofia tenta
encontrar uma resposta baseada num método que é o pensamento crítico. Em
filosofia não há métodos empíricos nem métodos formais para resolver problemas.
O método da filosofia é a discussão racional de argumentos, pensar o mais
correctamente possível para tentar encontrar respostas adequadas.
O que fazem os filósofos? Defrontam – se com certo tipo de problemas, procuram
responder – lhes e elaboram argumentos para apoiar ou justificar as respostas
dadas. Formular problemas, tentar responder – lhes com teorias ou teses – as
respostas aos problemas - e recorrer a argumentos para defender aquelas, eis o
que basicamente constitui a atividade filosófica.
NOTA NA MARGEM - Elementos centrais da filosofia - Uma teoria
filosófica é uma tentativa de resposta a um problema filosófico. O argumento
filosófico procura justificar a teoria.
Problema filosófico: Será que Deus
existe? Teoria ou tese filosófica: Deus não existe. Argumento
filosófico: Se Deus existe, a vida tem sentido. A vida não tem sentido. Logo, Deus
não existe.
O MÉTODO DA FILOSOFIA
|
4. A atitude filosófica
O que dissemos
sobre o método da filosofia torna fácil perceber o que se entende por atitude
filosófica. A bem dizer, o método filosófico é uma atitude a que podemos dar o
nome de pensamento crítico.
Todos temos
crenças ou ideias acerca do que é real, do que é valioso, do que é moralmente
correcto ou incorreto, etc. A filosofia examina criticamente estas crenças
fundamentais, ou seja, a aceitação ou recusa das nossas crenças básicas não se
faz sem antes as submeter a um exame racional. Isto quer dizer que a filosofia
transforma essas crenças em problemas. Por exemplo, por mais pessoas que
acreditem que Deus existe ou que o aborto é moralmente aceitável, um filósofo
tem de perguntar duas coisas: 1 – Será que isto é verdade? 2 – Há boas razões
para pensar que estas crenças são verdadeiras? Por isso se diz que a filosofia
é uma atitude crítica, problematizante, que exige que justifiquemos bem as
nossas ideias ou crenças.
NOTA – Para aprofundar o que é atitude filosófica será
proveitoso realizar os exercícios propostos na página ... do Caderno de
Atividades. Os exercícios são
sobre a Alegoria da Caverna que
consideramos uma boa ilustração da atitude filosófica.
NOTA - No You Tube pode ver – se o documentário A Vida Examinada – Sócrates. Eis o
link: http://www.youtube.com/watch?v=KcujZd3JDtg. Pode
sugerir – se aos alunos que vejam o filme de Rossellini intitulado Sócrates, uma cinebiografia do
filósofo. O link é: http://www.youtube.com/watch?v=SlJSF-V6yBA. Sobre a
origem da filosofia e a diferença entre filosofia e mitologia, recomende – se aos alunos um episódio de TeleCurso 2000
- Filosofia - Aula 1 - É o espanto! Despretensioso, pode ser útil para perceber a passagem da forma
mitológica de explicar a realidade à filosófica. Tem duas partes. O link é:
http://www.youtube.com/watch?v=9h1A3iMYm0Q
O
problema que os filósofos enfrentam com muitas pessoas é que pensar
criticamente pode desorientar – nos, podemos sentir que estamos a ficar sem os
pés no chão porque as crenças em que a nossa cultura e a nossa sociedade se
baseia são questionadas. Não gostamos de ter dúvidas. Outro problema é que
normalmente os filósofos chegam a respostas diferentes para o mesmo problema:
uns dizem que somos livres, outros que não; uns dizem que o direito de governar
se deve basear na vontade da maioria e outros no mérito; uns dizem que as
intenções é que contam, outros que as boas acções dependem das consequências;
uns que Deus existe e outros que Deus não existe. E muitas vezes, os argumentos
parecem convincentes de um lado e do outro. Assim, muitas pessoas pensam que a
filosofia nada nos diz e nos deixa confusos. Contudo, haver problemas que
devido à sua generalidade e radicalidade não têm solução científica, não quer
dizer que não devamos responder – lhes. Na verdade, respostas sempre houve. A
filosofia dá – nos o método – a discussão crítica de ideias – para lidar com as
respostas que encontramos, sejam dos filósofos ou não. Esse método consiste em
avaliar a qualidade dos argumentos em que se apoiam as crenças ou teorias que
respondem aos problemas da filosofia. Devemos pensar por nós e pensar bem. E
isso é importante para a nossa formação como seres humanos.
CARACTERÍSTICAS
DA ATITUDE FILOSÓFICA
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||
USO CRÍTICO E
CONSTRUTIVO DA RAZÃO
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PROBLEMATIZAÇÃO RADICAL
|
AUTONOMIA
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Para
a filosofia as nossas crenças e opiniões não podem ser aceites sem
justificação. Temos de as defender com argumentos.
Argumentos
com os quais, em princípio, não estejamos de acordo devem ser examinados e
testados mediante contra – argumentos.
Ao
interrogar as nossas crenças mais fundamentais, a filosofia pretende que
pensemos se não estamos errados, não para nos desiludir mas para que
procuremos ter uma compreensão mais alargada do mundo e de nós.
|
A filosofia transforma as nossas crenças em problemas, ou
seja, coloca a questão «Será isso verdade?» «Há boas razões para acreditar
que isso seja verdade?». O que parece evidente e bem estabelecido é para ser
discutido.
|
Como dizia Kant, filosofar é ousar pensar por si. A
atitude filosófica é incompatível com a dependência em relação a gurus ou
orientadores espirituais e ao que a maioria julga ser a verdade.
|
ATIVIDADE 3
Leia atentamente o texto seguinte e responda às
questões. Justifique as suas respostas.
1
Filosofar é frequentar o laboratório da mente
A
filosofia, disse Platão, começa com o espanto, espanto com o universo, com o
que ele contém e com o nosso lugar nele. O que é o universo? É somente composto
por matéria ou também contem coisas imateriais como espíritos? Como o podemos
saber? A experiência é a única fonte de conhecimentos ou há outras formas de
conhecer? Porque estamos aqui? Fomos criados por Deus como parte de um plano
divino ou o nosso surgimento deve-se a processos simplesmente naturais? Somos
livres ou todas as nossas acções são determinadas por forças que escapam ao
nosso controlo? Que obrigações temos para com os outros? Temos o dever de os
ajudar ou a nossa única obrigação é não os prejudicar? Estas questões são ao
mesmo tempo familiares e estranhas. Familiares porque já nos confrontámos com
elas em algum momento das nossas vidas e estranhas porque não é claro como
havemos de lhes responder. Ao contrário de muitas questões, não podem ser
resolvidas mediante investigação científica.
Quer disso
te apercebas ou não, assumes ou supões que certas respostas àquelas questões
são verdadeiras. Estas crenças constituem a tua filosofia. A disciplina de
filosofia examina criticamente tais crenças para determinar se são verdadeiras
ou não. A palavra filosofia significa «amor da sabedoria». Deriva do grego philo que significa amor e sophia que significa sabedoria. O desejo
de conhecer a verdade, o amor pelo saber é , contudo, somente um dos motivos
que nos conduzem a filosofar. O desejo de viver uma vida boa e valiosa é outra
das motivações para fazer filosofia. As acções baseiam-se em crenças e acções
baseadas em crenças verdadeiras tem mais hipóteses de serem bem sucedidas do
que as apoiadas em crenças falsas.
O
pensamento filosófico não tem nenhum valor se não for lógico. Para distinguires
entre crenças filosóficas plausíveis e as que não o são, importa saberes a
diferença entre argumentos corretos e incorretos. Terás de aprender que tipos
de argumentos os filósofos usam para tentar justificar as suas crenças ou teses
e avaliar se os defendem bem. Chama-se a isso frequentar o laboratório da
mente. Os problemas filosóficos não são problemas empíricos e a este tipo de
problemas tenta-se responder no laboratório da mente, ou seja, mediante o
pensamento crítico. Como se vêem os filósofos a si mesmos? Como indivíduos que
debatem ideias, que se preocupam com questões conceptuais e não com questões
empíricas, que procuram compreender e interpretar factos e não com
descobri-los. Os filósofos não realizam experimentações, nem sondagens ou
observações. Pensam.
O objecto
do pensamento dos filósofos são as nossas crenças mais básicas, isto é, crenças
cuja verdade ou falsidade determina a verdade ou falsidade de muitas outras
crenças, menos básicas ou fundamentais. O modo como os filósofos pensam tem o
nome de pensamento crítico, que é o
método da filosofia.
Schick,
Jr, Theodore e Vaughn, Lewis, Doing Philosophy, an introduction through thought
experiments, McGraw- Hill, Nova Iorque, 2002 pp. 22-23.
1.O que é, de acordo com o texto, frequentar o
laboratório da mente?
R: Frequentar o laboratório da mente é
tentar responder aos problemas filosóficos mediante o pensamento lógico e
critico distinguindo bons de maus argumentos e testando assim as teorias que os
filósofos apresentam.
2. Qual
é o método adotado no laboratório da mente?
R: O método aí adotado é a discussão
critica de ideias. Pensar criticamente é examinar as nossas crenças e ideias,
analisando as razões ou argumentos que temos para as defender ou abandonar.
3.Nesse
laboratório pensa – se à margem do mundo real, sem qualquer contato com ele?
R: Não. Apesar de não haver solução
empírica para os problemas da filosofia, o filósofo não vive fechado no mundo
das ideias. Ele recorre à informação que a experiência nos fornece. Muitos
problemas filosóficos – por exemplo, a legitimidade do aborto, se matar animais
para os comer é errado, se a eutanásia é ou não imoral – são pensados a partir
da experiência e de situações do nosso dia -a – dia. Todos os filósofos dignos
desse nome procuram informar – se sobre o que se passa no mundo, seja o mundo
da política, da arte, da religião ou da ciência.
4. O que
são problemas filosóficos segundo o texto?
R: São problemas a que nenhuma
experiência ou observação por mais rigorosa que seja pode dar resposta. Só lhes
podemos responder pensando, argumentando para formar teorias ou para as
analisar e testar.
5. Quem
frequenta esse laboratório está só? Não estabelece relação com ninguém?
R: Não. Nesse
laboratório ficamos a saber que muitos dos problemas que debatemos e que nos
interessam, já foram debatidos por outros pensadores alguns dos quais têm lugar
de destaque na história do pensamento filosófico. Por outro lado, a discussão
critica de ideias e a análise da validade dos argumentos em que as teorias
filosóficas se apoiam consiste frequentemente num diálogo ou num debate em que
vários pensadores participam. Sem o conhecimento dos argumentos e erros dos
filósofos anteriores, não poderia haver avanço e progresso na Filosofia.
6. Há
alguma vantagem em frequentar o laboratório da mente?
R: Além de exercitar o pensamento
crítico – uma boa “ginástica mental” – podemos evitar aquilo a que Kant chamava
o “sono dogmático “ da razão. Se tivermos consciência de que as nossas crenças
ou ideias enfrentam dificuldades ou lhes falta solidez podemos tentar modificá
– las. Caso isso não seja possível podemos abandoná – las e encontrar ideias
mais plausíveis. A incapacidade tipicamente fanática de examinar as nossas
crenças não é tolerada no laboratório da mente. Em filosofia não há donos da
verdade, não há o direito de tentar eliminar e silenciar as ideias dos outros.
Pensar por si é sinónimo de pensamento livre.
ATIVIDADE
4
Trata – se de uma atividade de recapitulação das aprendizagens deste
capítulo. Apresentamos em alternativa dois textos: um de Warburton e outro de
Elliot Sober. Nada impede, contudo, que sejam estudados os dois.
1
O que é a filosofia? Porquê estudar filosofia?
Uma
razão importante para estudar filosofia é o fato de a filosofia lidar com
questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência. A maior parte das
pessoas, num ou noutro momento da sua vida, já se interrogou a respeito de
questões filosóficas. Por que razão estamos aqui? Há alguma demonstração da
existência de Deus? As nossas vidas têm algum propósito? O que faz com que
certas acções sejam moralmente boas ou más? Poderá haver justificação para
violar uma lei? A nossa vida podia ser um sonho? Será a mente diferente do
corpo ou somos apenas seres físicos? Como avança a ciência? O que é a arte? E
por aí adiante.
A maior parte das pessoas que estuda
filosofia acha importante que cada um de nós examine estas questões. Algumas
até defendem que não vale a pena viver a vida sem a examinar. Persistir numa
existência rotineira sem jamais examinar os princípios na qual a vida se baseia
pode ser como conduzir um automóvel que nunca foi à revisão. Podemos
justificadamente confiar nos travões, na direção e no motor, uma vez que sempre
funcionaram suficientemente bem até agora; mas esta confiança pode ser
totalmente injustificada: os travões podem ter uma deficiência e falharem
quando mais precisamos deles. Analogamente, os princípios nos quais a nossa
vida se baseia podem ser bastante sólidos; mas, até os termos examinado, não
podemos estar certos disso.
Contudo, mesmo que não duvidemos
seriamente da solidez dos princípios ou crenças fundamentais em que baseamos a
nossa vida, podemos empobrecê-la ao recusarmo-nos a usar a nossa capacidade de
pensar. Muitas pessoas acham que dá demasiado trabalho colocar este tipo de
questões fundamentais: podem sentir-se satisfeitas e confortáveis com os seus
preconceitos. Mas existem outras pessoas que sentem um forte desejo de
encontrar respostas. Para elas, as questões filosóficas representam um
desafio.
Outra razão para estudar filosofia é
o fato de nos proporcionar uma boa forma de aprender a pensar mais claramente
sobre um vasto leque de assuntos. Os métodos do pensamento filosófico podem ser
úteis em variadíssimas situações, dado que, ao analisar os argumentos a favor e
contra qualquer posição, adquirimos aptidões que podem ser utilizadas noutras
áreas da vida. Muitas pessoas que estudam filosofia aplicam depois as suas
aptidões em profissões tão diferentes como o direito, a informática, a
consultoria de gestão, o funcionalismo público e o jornalismo – áreas onde a
clareza de pensamento é um grande trunfo. Os filósofos usam a perspicácia que
adquirem sobre a natureza da existência humana quando se voltam para as artes:
alguns foram romancistas, críticos, poetas, realizadores de cinema e
dramaturgos de sucesso.
Elementos
Básicos de Filosofia Nigel
Warburton
1. Nigel Warburton assinala três razões que
mostram que o estudo da filosofia pode ser importante. Indique cada uma delas e
explique em que consistem.
R: Uma das razões para
estudar filosofia, segundo Warburton, é que ela debate questões muito
importantes. Essas questões dizem respeito ao sentido da nossa existência. Por
que razão hei – de fazer o bem em vez de fazer o mal? O que é ser feliz?
Estamos neste mundo para ajudar os outros ou somente para tratar dos nossos
interesses? Qual é o sentido da vida? Há uma vida para além desta? Como será?
Deus existe? É importante acreditar que Deus existe? Somos livres ou somos
aquilo que os outros fizeram de nós? Estas são algumas da questões que a
filosofia discute.
Outra das
razões para estudar filosofia é que ela nos ensina a examinar as crenças ou
ideias em que baseamos as nossas acções e a nossa relação com os outros e o
mundo. A atitude filosófica exige que pensemos critica e rigorosamente acerca
de crenças fundamentais que nos foram transmitidas e que aceitámos de forma
acrítica. Com efeito, em muitos casos adquirimos ideias como quem contrai
gripe, por contágio. À semelhança do vírus da gripe, as crenças estabelecidas
parecem fazer parte do nosso ambiente e respiramo-las quase sem dar por isso.
Assim, as crenças que eram da nossa cultura tornam-se as nossas crenças. Até podem
ser verdadeiras e excelentes, mas como havemos de o saber se as interiorizámos
de forma acrítica, sem pensar? Ao examinarmos as ideias básicas, nossas e dos
outros, que se transformaram em hábitos mentais, devemos como filósofos
perguntar: O que justifica essas crenças? Que razões temos para supor que são
verdadeiras?
A terceira
razão para estudar filosofia é esta: a filosofia ajuda-nos a pensar melhor, não
só sobre as questões filosóficas mas também sobre os problemas de outras áreas do
saber desde que nestas áreas tenhamos uma boa informação e formação. Neste
sentido, quem for capaz de discutir e argumentar de forma rigorosa as ideias
filosóficas, saberá discutir muitas outras ideias ou assuntos.
2. Concorda com Nigel Warburton sobre o valor da
filosofia. Porquê?
2
Três
teses sobre o que é a filosofia.
Muitos problemas da filosofia envolvem questões fundamentais de
justificação. Há muitas coisas em que acreditamos sem hesitação ou reflexão.
Estas crenças, que constituem uma segunda natureza, são por vezes chamadas de
senso comum. O senso comum afirma que os nossos sentidos (visão, audição,
tacto, paladar e olfato) fornecem a cada um de nós conhecimento acerca do mundo
em que habitamos. O senso comum diz ainda que as pessoas agem frequentemente
com base no seu livre arbítrio. O senso comum sustenta que algumas acções são
correctas e outras erradas. A filosofia examina os nossos pressupostos
fundamentais acerca de nós próprios e do mundo em que vivemos e tenta
determinar em que medida esses pressupostos são racionalmente
justificáveis.
Outra característica de muitas das
questões filosóficas é serem bastante gerais; com frequência, são mais gerais
do que os problemas investigados pelas diferentes ciências. Os biólogos
interessaram-se por saber se os genes existem. Os físicos investigaram a
existência dos electrões. E os geólogos tentaram descobrir se os continentes
assentam em placas móveis. No entanto, nenhuma destas ciências se preocupou com
a questão de saber por que haveríamos de pensar que há objectos físicos. As
várias ciências limitam-se a pressupor que existem coisas fora da mente;
depois, concentram-se em questões mais específicas sobre como essas coisas são.
Em contraste, uma questão tipicamente filosófica é saber por que havemos de
acreditar que existe algo fora da mente. Esta é uma questão bastante mais geral
do que a questão de sabermos se existem electrões, genes ou placas
continentais.
Uma terceira perspectiva sobre o que
é a filosofia afirma que a filosofia é a atividade de clarificar conceitos.
Repare em algumas das questões tipicamente filosóficas: o que é o
conhecimento?; o que é a liberdade?; o que é a justiça?; etc. Cada um destes
conceitos aplica-se a certas coisas e não a outras. O que terão em comum as
coisas que recaem sob o conceito e o que as distingue daquelas a que o conceito
não se aplica?
Cada uma destas três formas de
compreender a filosofia deve ser entendida com um grão de sal (ou dois). É
possível defender cada uma delas, embora se tratem de simplificações que
envolvem alguma distorção.
Elliott Sober, Questões Nucleares de Filosofia (adaptado)
1. Elliott Sober identifica três características
típicas da filosofia e dos seus problemas. Indique cada uma delas e explique
por palavras suas em que consistem.
R: Muitos problemas da filosofia envolvem questões fundamentais de justificação. Muitas pessoas acreditam que Deus existe e outras que Deus não
existe. Em ambos os casos têm de apresentar razões ou justificações para essas
crenças. Não é suficiente dar opiniões: é preciso justificá – las argumentando
bem. Dispormo-nos a examinar as nossas crenças mais básicas não é tarefa fácil
porque pode fazer-nos chegar a conclusões que a maioria dos membros da
sociedade desaprovam e porque exige uma atitude crítica que lança a dúvida
sobre o que nos habituámos a considerar verdadeiro. Por exemplo, a filosofia
examina as crenças básicas nas quais se apoia a religião quando pergunta Será
que Deus existe? Que razões temos para acreditar nisso? Há uma vida para além
da morte? Estas questões podem ser consideradas como desafios às ideias
estabelecidas e falta de respeito pelo que a tradição definiu.
Outra característica de muitas das questões filosóficas é
serem bastante gerais. Muitas pessoas acreditam que não mentir ou não roubar são acções moralmente
corretas. O filósofo não pergunta se roubar a pensão que uma pessoa idosa
acabou de receber no banco é uma ação errada. O que ele pergunta é o seguinte:
”O que é uma acção moralmente correcta?”. Ao responder a esta questão geral
estará em condições de avaliar aquele acto particular. Saber o que é uma ação
moralmente correcta, ou seja, de que depende a correção moral de uma acção é
uma das grandes questões da ética. Há filósofos que defendem que a bondade de
uma acção depende da intenção, outros defendem que depende das consequências ou
resultados e outros do caráter do agente. Estabelecidos estes princípios gerais
podem avaliar acções particulares.
Uma obra
original de Picasso não tem para um bom critico de arte o mesmo valor que uma
imitação por mais bem feita que seja. O filósofo perguntará em que se baseia o
crítico de arte para o afirmar. Por outras palavras, colocará uma questão ou
pergunta mais geral: ”O que é a arte? O que faz de uma coisa uma obra de
arte?”. Nenhuma experiência, nenhuma observação, nenhuma experimentação por
mais rigorosa que seja nos pode dar uma resposta a estas questões. Estas
perguntas são “problemas não - empíricos”. Podemos e devemos utilizar
informação empírica – como falar de arte sem nada saber de arte, como falar de
conceitos usados nas ciências sem nada saber de ciência? - mas a filosofia não produz informação
empírica nem encontra nesta a solução dos seus problemas. “Como está
distribuída a riqueza em Portugal?” é uma questão empírica e os economistas e
sociólogos dão a resposta. Perguntar se essa distribuição é justa já é uma
questão filosófica, geral e fundamental.
Uma terceira perspectiva, intimamente ligada à anterior
sobre o que é a filosofia afirma que a filosofia é a atividade de clarificar conceitos. Clarificar um conceito é dizer o que significa o termo que usamos
para o exprimir. Vejamos o conceito de justiça. O que é uma distribuição justa
da riqueza? Dar a todos – médicos, engenheiros, professores, policias, etc – o
mesmo rendimento? Mas e se uns trabalharem mais do que outros? Atribuir igual
ordenado a quem faz o mesmo trabalho? Mas e se uns forem mais competentes? É
justo pagar impostos? Em caso afirmativo, quem deve pagar mais? Será justo que
alguém pague mais ou deve haver um só escalão?
Como se vê é
uma tarefa difícil clarificar conceitos. Ao clarificarem os conceitos que usam,
os filósofos tornam também claras as teorias que defendem.
2. Em que sentido se justifica dizer que a
filosofia pode pôr em causa o senso comum?
Os filósofos
“examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do
tempo.” Muitas pessoas vivem sem pensar por um pouco que seja se o que lhes
ensinaram é o mais correcto. Não querem o trabalho de pensarem por si. Não
questionar as suas ideias e preconceitos reflecte-se negativamente na
sociedade, concretamente, em más decisões, em más leis, em más instituições e
em maus hábitos sociais e costumes; aceitar as críticas e repensar as suas
ideias é estar a contribuir para a construção de um mundo melhor, mais
civilizado.
O QUE APRENDEU NESTE CAPÍTULO
|
1. .Ao contrário de ciências como a física, a
química e a biologia, a filosofia não estuda problemas empíricos.
2. A filosofia é mais parecida com a matemática, que também
não é uma disciplina que estude problemas empíricos.
Mas a semelhança não significa que os problemas filosóficos sejam problemas matemáticos. Porquê? Porque não se pode
saber através de teoremas, equações e demonstrações formais se a eutanásia é
ou não correcta ou, por exemplo, se Deus existe.
3. Os problemas
filosóficos são problemas não – empíricos para os quais não há resposta ou
solução científica.
4. Os problemas
filosóficos não são resolvidos nem pelas ciências, nem pelas artes, nem pelas
religiões porque dizem respeito a
crenças ou convicções que essas atividades não questionam e que contudo são o
seu suporte ou o alicerce . A essas
crenças ou convicções dá – se o nome de crenças básicas
ou fundamentais. Por
exemplo, sem a crença na possibilidade
do conhecimento a atividade científica não teria fundamento. As ciências não
põem em causa que é possível conhecer a realidade natural. Cabe à filosofia
fazer uma pergunta radical: “Será que é possível o conhecimento?”, “Será que
o mundo físico é real ou vivemos iludidos num grande sonho’”. As religiões
monoteístas acreditam que Deus existe e que sem Deus não há regras morais
absolutas. Os filósofos investigam estas crenças fundamentais perguntando
entre outras coisas “Será que Deus existe?”, “Será que é Possível provar a
sua existência?”, “Precisamos de Deus para distinguir o bem do mal de forma
absoluta e objectiva?”.
5. Os
filósofos estão interessados em analisar e discutir as ideias básicas em que assentam muitas das nossas
práticas, ou comportamentos, em domínios tão diferentes e significativos como
a religião, a política, a moral e a arte. As crenças ou ideias básicas em que
as diversas atividades humanas se baseiam são crenças de cuja verdade depende
a verdade de outras crenças menos fundamentais.
Assim, se, argumentando, puser em causa a existência de Deus não é só sobre a existência de Deus que eu lanço
dúvidas. Ponho também em causa a possibilidade de as regras morais terem
origem divina, e de a moral depender da
religião. Se negar uma crença básica como “Somos livres” parece impossível
afirmar uma outra crença que daquela depende: a ideia de que podemos ser
responsabilizados pelas nossas acções e consequentemente que podemos ser
elogiados ou censurados, louvados ou punidos pelo que fazemos.
6.Os filósofos discutem
ideias. Os cientistas procuram explicar
factos.
7.O objeto
de estudo da filosofia
é o conjunto de problemas associados a certos conceitos básicos que usamos
nas ciências, nas artes, na religião, na moral e na vida quotidiana. O método da filosofia é a discussão critica desses
problemas apresentando e confrontando teorias e argumentos. Discutir criticamente problemas filosóficos é
apresentar razões que possam ser publicamente avaliadas. Não é uma luta
verbal em que cada uma das partes em confronto tenta ganhar a todo o custo.
8.As principais características da atitude filosófica são a curiosidade, o
desejo e a necessidade de conhecer, a capacidade de transformar em problema o
que parece evidente e indiscutível e a recusa de aceitar como verdadeiras
ideias feitas ou teorias (que se
tornaram hábitos) sem antes examinar os argumentos em que se apoiam. A isto
chama – se uso critico da razão.
9.Para os problemas próprios da filosofia os
filósofos formulam respostas, a que se dá o nome de teorias ou doutrinas filosóficas, que tentam
depois justificar (e criticar) por meio de argumentos.
A importância dos argumentos para a
filosofia deriva sobretudo do facto de, devido à própria natureza dos
problemas investigados, ser impossível recorrer, como nas ciências, à
experiência para testar a verdade das teorias ou doutrinas filosóficas. As
teorias filosóficas são as respostas aos problemas filosóficos. As teorias
filosóficas não resultam da utilização dos métodos das ciências. Aos problemas da filosofia respondemos
ou tentamos responder usando o pensamento. Os problemas filosóficos são
problemas cuja resposta é dada fundamentalmente pelo pensamento.
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O que pode ser bom para uns pode não ser para outros, na minha opinião é sensacional.
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