TERÁ TODA A OBRA DE ARTE UM ASSUNTO?
O assunto de uma obra de arte é aquilo de que ela trata. Quem lesse uma obra literária sem tentar interpretá-Ia poderia contudo determinar o seu assunto: por exemplo, A Odisseia trata das andanças de Ulisses. Qualquer obra de ficção tem um assunto; pode além disso ter ou não um tema ou ideia subjacente, que apareça explicitamente afirmado ou que está implícito na obra. Se A Odisseia tem ao mesmo tempo um assunto e um tema é susceptível de discussão, contudo, na maior parte dos casos a resposta é clara: por exemplo, o assunto da obra Pilgrim's Progress, de Bunyan, é uma série de eventos vividos por um homem chamado Christian, enquanto que o tema é a salvação do homem. Por outro lado, uma obra literária pode conter uma tese, ou seja, uma proposição ou conjunto de proposições que formula, ataca ou defende: a tese de Pilgrim's Progress é afirmada repetidas vezes; ao contrário, nos romances de Thomas Hardy, a tese de que o homem é vítima de um "destino" hostil que controla a sua vida e de que não pode libertar--se, raras vezes ou quase nunca aparece explicitamente formulada.
Nem todas as obras de arte têm um assunto. Se os poemas, as obras dramáticas e os romances tratam sempre de algo, isso não acontece com as obras musicais: a Quinta Sinfonia de Beethoven não trata do destino do homem, do seu heroísmo, nem de outras coisas que por vezes lhe atribuíram a título de assunto. Algumas pinturas, especialmente as não representativas, compostas de cores e figuras, não tratam de nada; outras têm sem dúvida um assunto (por exemplo, a Crucificação). O termo "tema" utiliza-se muitas vezes em música; contudo, neste caso possui um significado completamente distinto: quando falamos da "temática material" de uma composição referimo-nos, não a qualquer ideia subjacente nem a nenhuma outra coisa que transcenda o que é representado através do meio (o som) mas uma série de tons dentro do mesmo meio.
John Hospers, op. cit., pp. 119-120
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