quarta-feira, 2 de março de 2011

O SENTIDO DA EXISTÊNCIA - A PERSPECTIVA DE KIERKEGAARD


A Perspectiva de Kierkegaard sobre o Sentido da Existência.

Sören Kierkegaard (1813-1855). Pensador dinamarquês cuja obra tem um só objectivo: esclarecer o que significa a fé cristã. A fé em Deus é uma forma de vida terrivelmente exigente porque dá muito mais importância a Deus do que às coisas humanas e terrenas. Em Temor e Tremor (1843; trad. 1990, Guimarães Editores), Abraão, exemplo do amor e submissão absolutos a Deus, é considerado o modelo do homem de fé, pois para ele Deus está sempre em primeiro lugar e nem o amor a um filho lhe pode ser superior: sem Deus o homem está condenado ao desespero. Podemos escolher uma vida dedicada ao prazer e ao divertimento (existência estética) ou ao cumprimento do dever, das obrigações morais e sociais (existência ética), mas o cristão autêntico aposta no Desconhecido e encontra nessa entrega o sentido pleno (existência religiosa). A fé cristã é sofrimento. Reina a incerteza (não sei se Deus existe) e a incompreensão dos outros, pois colocar Deus acima de tudo implica frequentemente contrariar a moral socialmente estabelecida. Critica Hegel por este ter querido tornar acessíveis à razão os dogmas da fé cristã e as Igrejas por a transformarem num hábito tranquilo e rotineiro. Um dos principais representantes do fideísmo, defende que a fé é superior à razão.
Apresenta-nos uma interpretação da sua própria obra em Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra Como Escritor (1859; trad. 1986, Edições 70).


A resposta da Kierkegaard à questão do sentido da vida é clara: a vida humana só tem sentido se for orientada pelo cumprimento da palavra e da vontade de Deus. A entrega exclusiva a objectivos terrenos, temporais e passageiros é, para o filósofo dinamarquês, desperdício da existência. E desperdício porquê? Porque, criados por Deus à sua imagem, fomos feitos para a eternidade. Sem Deus a vida é desperdício porque termina em nada. Para Kierkegaard, ser cristão é viver imitando Cristo, seguir o seu exemplo e não simplesmente admirá-lo. Ora, o que nos ensina Cristo? O amor e a submissão absoluta à vontade de Deus. O Cristianismo, entendido verdadeiramente, é, não uma doutrina, mas uma forma de vida terrivelmente exigente que não admite que as coisas deste mundo tenham precedência sobre Deus.
Tudo o que faz com que Deus passe para segundo plano é traição ao Cristianismo. As igrejas, ao procurarem facilitar a vida dos homens, consolando-os e diminuindo-lhes a angústia, “brincaram ao Cristianismo”, falsificaram-no. O Cristianismo não é uma doutrina para resolver os problemas deste mundo, mas a impaciência angustiada da vida eterna no outro mundo. As igrejas, e em especial a dinamarquesa, fizeram do Cristianismo um negócio, transformaram-se em empresas lucrativas de viagens para a eternidade que só se salvam do descrédito porque não temos notícias dos “passageiros”.

A reflexão de Kierkegaard sobre a existência é marcada por uma questão religiosa fundamental para o filósofo dinamarquês: “Como ser autenticamente cristão?”. Indignado com a superficialidade, a falta de seriedade e a tranquilidade rotineira segundo as quais o Cristianismo – a mensagem e o exemplo de Cristo – era vivido no seu tempo, Kierkegaard expõe uma interpretação da existência humana que salienta as seguintes ideias fundamentais:

a) A existência humana só é verdadeira e autêntica se for relação com Deus. Sem essa relação o homem desperdiça a sua vida e condena-se ao desespero absoluto;

b) Essa relação (a que Kierkegaard dará o nome de fé) só terá autenticidade se for absoluta, isto é, se Deus estiver sempre em primeiro lugar, tornando-se tudo o resto secundário.

Sendo esta a forma de existência autêntica – a vivência religiosa genuinamente cristã –, Kierkegaard refere-se também às formas de vida estética (centrada no prazer) e ética (centrada no dever), não só para, por contraste, explicitar o que caracteriza e distingue o homem religioso, mas também porque são formas de existência alternativas que o homem pode escolher como finalidades da sua vida.
Às formas de existência estética, ética e religiosa dá Kierkegaard o nome de “estádios no caminho da vida”. Estes “estádios” designam determinadas concepções acerca do mundo e da vida, traduzem opções fundamentais quanto ao modo como cada homem decide viver a sua vida.

1. O Estádio Estético

O homem estético orienta a sua vida pelo “princípio do prazer”, isto é, pela procura do prazer, do que é agradável aos sentidos. O modelo do homem estético é o sedutor, o Don Juan, mas, embora o prazer da conquista e do gozo sexual seja o mais intenso e o mais procurado, a vida estética pode também consistir na entrega a fins temporais como o poder e o dinheiro.
O que há de comum entre os diversos indivíduos com preocupações diferentes para que consideremos que adoptam uma forma de vida estética?
Vivem para o momento imediato, para o instante que passa e, identificando a repetição com o aborrecimento, rejeitam voltar a fazer a mesma coisa. O homem estético é dominado pela imaginação e pela fantasia: sonha com estados de alma sempre novos, desejando que cada experiência agradável seja uma absoluta novidade. Para ele, a arte de viver consiste em escapar à monotonia do “já visto”. Esta obsessão pela novidade, pela diferença, implica uma mudança constante e a negação de qualquer compromisso ou fidelidade, seja a uma mulher seja a valores morais e religiosos seja a um ideal social e político. Tudo isto, mais instituições como o casamento, a família e uma ocupação profissional rotineira, são insuportáveis, impõem restrições, reprimindo a procura do prazer (que se pretende indefinida).
Este amor à novidade tem o seu reverso: a satisfação do prazer em determinado caso é sempre seguida pela insatisfação. A dinâmica infinita do desejo, o querer que seja sempre mais intenso, transforma cada desejo satisfeito em melancolia e aspiração a nova experiência satisfatória. Múltiplas experiências, dispersão na procura do prazer e permanente insatisfação com o prazer atingido, eis o que caracteriza a figura que melhor representa este estádio: o sedutor D. Juan, que termina no desespero e na perdição. À medida que o homem que assim vive se torna consciente da futilidade e inconsistência da sua vida e deixa de valorizar uma existência determinada pelas inclinações e caprichos sensoriais, o desespero instala-se.
A existência estética é essencialmente divertimento e amor à novidade. A fantasia predomina sobre a razão e a vontade. Guiado pela fantasia, o homem estético abraça as riquezas, as honras e os prazeres, sendo irresistivelmente atraído por prazeres imaginados como sempre mais intensos. Evita pensar sobre si mesmo, não se concentra senão nos seres e nas coisas que o podem satisfazer e que, mais tarde ou mais cedo, o desiludem. A vida do homem estético é uma vida à deriva, cujo centro reside na periferia de si mesmo. O “esteta” não é senhor de si mesmo: a sua existência é governada por contingências externas.



2. O Estádio Ético

O homem ético é orientado pelo princípio do dever. Ao contrário do homem estético, não pretende estar “além do bem e do mal”. Não quer ser excepção, deseja sentir-se integrado na sociedade em que vive, respeitar as normas e os padrões comuns: reconhece como sua a moral comum porque o mais importante para ele é sentir-se ligado aos outros homens. O homem ético constrói a sua identidade identificando-se com as normas ou princípios com os quais a maioria dos homens se identifica.
A uma vida caracterizada pela descontinuidade e instabilidade prefere uma vida consistente, marcada pelo compromisso empenhado nas escolhas realizadas. A vida para o homem ético é, não uma sucessão desconexa de instantes, mas algo que a partir do presente se projecta no futuro, sob a forma de conjunto organizado e planificado.
O estádio ético implica a renúncia às atracções passageiras, aos caprichos do impulso sensual, aos interesses egoístas e aos devaneios da fantasia. Viver de forma ética não é fácil e, por vezes, enormes sacrifícios são exigidos.

Contudo, o protótipo ou o modelo do homem ético é o homem que aceita o compromisso do casamento. Para Kierkegaard, o homem casado é aquele que realiza uma escolha e pretende fazer dessa opção uma escolha definitiva, transformando o amor presente em amor de toda uma vida. Escolheu um caminho – cumprir o dever de respeitar o compromisso assumido com quem casou e satisfazer as expectativas da sociedade e da moral estabelecida no que respeita à criação e educação dos filhos. Para o homem casado é essa a opção fundamental da sua vida, aquilo que lhe dá sentido.
À leviandade, egoísmo e falta de escrúpulos do amor estético – toda a escolha é relativa, embora momentaneamente vivida como absoluta – sucede a fidelidade que se quer eterna: os esposos seriam os eternos e fiéis enamorados que triunfariam sobre o tempo, vivendo um amor estável como se ele fosse sempre um novo amor. Mas, aos olhos de Kierkegaard, isto não passa de idealização que não resiste à realidade:

“O hábito, o indefectível hábito, a cruel monotonia, a sempiterna uniformidade faz da vida doméstica e conjugal um insuportável marasmo.“ (Post-Scriptum)

A análise, pouco lisonjeira, que Kierkegaard faz do casamento permite-nos compreender as limitações e insuficiências que aponta à forma de vida ética em geral.
Ao frenesim da vida estética o homem ético prefere a estabilidade e, em muitos casos, opta pelo casamento como amor livremente escolhido e baseado no dever. Pretende essa escolha como absoluta e definitiva, mas o objecto da sua escolha nada tem de absoluto, é finito. No plano das relações e das coisas humanas, tudo tem o seu tempo, tudo é precário e imperfeito. Para Kierkegaard, nada há neste mundo que satisfaça o desejo humano de absoluto ou que possa ser objecto de uma dedicação absoluta (que dê à vida um sentido pleno). A vida estética e a vida ética nada mais são do que falsos substitutos do sentido último da vida humana. A desenfreada procura do prazer e a dedicação empenhada às normas morais socialmente aceites e transmitidas são, segundo Kierkegaard, máscaras que escondem o homem da verdade sobre si mesmo. Essa verdade resume-a Kierkegaard nas seguintes palavras: sem Deus o homem está condenado ao desespero.


3. O Estádio Religioso

O homem religioso é aquele que coloca Deus acima de tudo, considerando a relação com Deus como a relação fundamental da sua vida. A vivência religiosa, no seu significado genuíno, implica a subordinação de todos os fins temporais e finitos à finalidade suprema: cumprir absolutamente a vontade divina, ser um seguidor de Cristo.
Apesar das diferenças que os separam, os homens estético e ético caracterizam-se pelo facto de encerrarem a sua vida nos estreitos limites do tempo. Não são relação com Deus porque, propriamente falando, a vida temporal, “este mundo”, é o horizonte da sua existência. O homem estético coloca acima de tudo o prazer e o homem ético o dever, entendido como o conjunto de regras socialmente estabelecidas e genericamente reconhecidas.
Para muitos seres humanos o problema fundamental da existência consiste na realização profissional, na luta por um ideal político ou social, na aquisição de poder, dinheiro e honras, na procura e satisfação de prazeres sensoriais mais ou menos sofisticados, no dever moral de criar, educar e preparar o futuro dos filhos, etc.
Para Kierkegaard, o problema fundamental da vida humana é o da salvação eterna – ser redimido como pecador. Compreende-se, nesta perspectiva, que o filósofo dinamarquês afirme que a relação central do homem não possa ser a relação com os seus semelhantes, mas sim com Deus. Só Deus pode salvar porque só perante ele – contra a sua vontade – o pecado (entenda-se: o pecado original) foi cometido. De onde pode vir a salvação ou a redenção? Da fé. A fé é precisamente a relação – pessoal, privada e solitária – com Deus. Ora, para Kierkegaard, a fé é um paradoxo: traduz uma confiança absoluta num ser que nos é absolutamente Desconhecido. Por isso, nada nos garante que a fé em Deus nos salve. Confiamos em Deus, mas, como não podemos conhecer o destino que nos reserva, a fé é uma aposta angustiada no Desconhecido, a submissão a uma vontade que não podemos saber se existe e que excede a nossa razão e a nossa compreensão. Nesta ordem de ideias, ela é uma aventura no mar infinito da incerteza que nunca sabemos se chegará a bom termo. O drama fundamental da condição humana é, para Kierkegaard, precisamente este: o nosso destino joga-se na confiança que depositamos no Desconhecido. Quem opta por Deus, desvalorizando as coisas deste mundo e colocando em segundo plano, quando necessário, os laços familiares e as relações humanas em geral, é o autêntico crente. Seguindo esse caminho, espera-o uma tarefa árdua, desconfortável e poucos estarão dispostos a não ser como a maioria dos homens. Mas é isso o que impõe a mensagem de Cristo: ninguém pode estar em relação com Deus e nas boas graças da multidão, da ordem estabelecida3.
Por exemplo, São Francisco de Assis decidiu colocar a sua vida ao serviço de Deus e repudiou o seu pai perante os que se encontravam à entrada da catedral de Assis. De acordo com a moral instituída, tinha o dever de obedecer ao seu pai (que se opunha à sua escolha), mas “rejeitou-o” em favor do que considerou o dever supremo: responder ao “chamamento” de Deus. Se para o autêntico crente a relação com Deus é a relação mais importante, ela exige, algumas vezes, que em nome da vontade divina se ignore o que moralmente é reconhecido e aceite pela sociedade, isto é, o código moral vigente. Nessas situações dramáticas – como a de São Francisco de Assis – o dever absoluto para com Deus “suspende” a moral estabelecida.
Em suma, o homem é uma realidade na qual confluem dois vectores: o tempo e a eternidade, o finito e o infinito. Para Kierkegaard, é um ser temporal no qual a eternidade vive porque, tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, tem em si a marca da infinitude: Deus é a raiz do seu ser. Aqueles que não respondem ao apelo do Infinito, que procuram no plano do finito substitutos seguros e confortáveis para a relação com Deus ou o Infinito, desperdiçam a sua existência, fogem à verdade fundamental: a existência humana não tem sentido cabal e pleno neste mundo, não pode reduzir-se à estrita ligação ao finito.
Sem a relação com Deus não é possível o acesso à totalidade do meu ser e ao verdadeiro e autêntico sentido da minha existência: só o homem de fé ultrapassa o fechamento da sua existência nos estreitos limites do tempo, reconhecendo que ela só é completa e autêntica projectando-se no horizonte da eternidade.


O que Kierkegaard denomina existência religiosa ou “religiosidade” do estado religioso nada tem a ver com a religião estabelecida, tranquila, rotineira. Ataca de forma violenta os padres, esses “canibais antropófagos” que se alimentam como abutres dos “mortos magníficos” (Cristo, os apóstolos, os mártires), tal como os praticantes domingueiros, cuja fé é o cumprimento, sem empenho interior, de certos rituais. “Toda a (autêntica) religiosidade releva da subjectividade, da interioridade”. A religiosidade autêntica é a “religiosidade do paradoxo”. Ela consiste, para o crente apaixonado, em fundar sobre um facto histórico uma felicidade eterna, ou seja, em crer – contra toda e qualquer razão – na felicidade eterna anunciada paradoxalmente pela encarnação de Deus ou do Eterno num dado momento da história. O indivíduo que vive verdadeiramente a fé, ou seja, com “temor e tremor”, numa relação pessoal, íntima e extraordinária com Deus, desfruta desta felicidade aqui na terra, na sua interioridade, quaisquer que sejam as atribulações da sua existência.
Para Kierkegaard, a própria Igreja Cristã tem contribuído para tornar Deus irrelevante e quase inexistente. Com efeito, habituou os crentes a pensar que ser cristão é cumprir certas formalidades (baptismo, comunhão, regular assistência à missa e dar também regularmente dinheiro para manter o padrão de vida dos padres) e que isso basta. Pouca diferença faz de ser sócio de um clube. Na perspectiva de Kierkegaard, a Cristandade (a Igreja institucionalizada) esqueceu a mensagem de Cristo, transformou a vida “segundo Cristo” numa série de rituais vazios e domingueiros, quando a fé é interioridade, relação solitária, empenhada e difícil com Deus, o único que nos pode condenar ou redimir.


Actividades

1.         O que distingue a vida estética da vida ética?

2.         O que têm em comum?

3.         Texto de Kierkegaard

“Fala-se muito de desperdiçar a própria vida. Mas a única vida desperdiçada é a de quem viveu de tal modo iludido pelos prazeres e contratempos da vida que nunca se tornou decisivamente, eternamente, consciente de si mesmo como espírito ou indivíduo ou, o que dá no mesmo, nunca se apercebeu de que há um Deus e que ele próprio existe perante Deus. Tantos vivem assim as suas vidas.
Toda a existência humana não consciente de si como espírito (não consciente de si como necessitando de Deus), toda a existência humana que não está transparentemente fundada em Deus, mas de forma opaca assenta ou está imersa nalgum universal abstracto (Estado, nação, etc.) ou na ignorância acerca de si próprio… tal existência, por mais notáveis que sejam as suas realizações e sucessos, nada mais é do que desespero. Era o que os primeiros Padres da Igreja queriam dizer quando afirmavam que as virtudes pagãs eram esplêndidos vícios. Queriam dizer que, na sua essência, o paganismo era desespero, que o pagão não tinha consciência de si como espírito perante Deus” (Kierkegaard, O Desespero, Doença Mortal).

            a)         Segundo Kierkegaard, para a vida ter sentido é suficiente termos alguns objectivos ou finalidades?

            b)         Compare a posição de Tolstoi, apresentada no texto seguinte, com a de Kierkegaard.

«Muito bem, serás mais famoso do que Gogol, Pushkin, Shakespeare, Molière e do que todos os escritores do mundo – e depois?» E eu não conseguia de maneira alguma responder. […]
Isto aconteceu-me quando estava rodeado pelo que se considera a completa felicidade. Tinha uma mulher bondosa e dedicada que eu amava, bons filhos e bens que cresciam sem qualquer esforço da minha parte. Era mais do que nunca respeitado pelos meus vizinhos e amigos, era elogiado por estrangeiros e, sem qualquer auto-ilusão, podia considerar que o meu nome era famoso. Além disso, não estava louco nem com problemas mentais – pelo contrário, tinha um controlo perfeito das minhas capacidades mentais e físicas […].
Involuntariamente, imaginava que, algures, alguém se divertia à minha custa ao olhar para mim e ver uma pessoa que tinha vivido 30 ou 40 anos, instruindo-se, desenvolvendo-se, crescendo em corpo e espírito, e agora que eu tinha atingido a força mental e o cume da vida de onde podia avistar tudo, estava como o mais completo idiota nesse cume, vendo claramente que nada havia na vida e que nada haveria. E ele divertia-se…
Mas houvesse ou não alguém que se divertia à minha custa, isso não tornava as coisas mais fáceis para mim. Eu não conseguia atribuir qualquer valor sensato a um único acto nem a toda a minha vida. O que me surpreendia era não ter compreendido isso desde sempre. Toda a gente soubera sempre disso.
Mais cedo ou mais tarde os que eu amava e eu próprio seríamos vítimas da doença e da morte (como já antes acontecera), e nada restaria senão podridão e vermes. Tudo aquilo de que me ocupava, seja lá o que for, seria mais cedo ou mais tarde esquecido, e eu próprio deixaria de existir.

Leão Tolstoi, Confissão, 1882, pp. 12-13

4.Concorda com a perspectiva religiosa exposta sobre o sentido da vida? Porquê?

1 comentário:

  1. É por isto de Kierkegaard continua actual numa sociedade perdida, ou conjunto de seres homo sapiens que ainda não se tornaram "Ser". É ele que nos dá respostas para a sociedade do século XXI, em que o Sapiens, dizendo-se religioso, transforma o Deus desconhecido num grande tirano. O Cristianismo formou grande parte da humanidade ocidental, para já não falar da humanidade de outros cantos do mundo, mas é um Cristianismo traído, como dizia Kierkegaard. É um dos grandes filósofos que fazem falta ao século XXI

    ResponderEliminar