quarta-feira, 2 de março de 2011

TEXTO SOBRE RELIGIÃO E SECULARIZAÇÃO


Religião e Secularização


Numa definição breve, a secularização seria um processo histórico no decorrer do qual alguns ou a maioria dos elementos constitutivos da cultura foram subtraídos ao domínio da religião,  perdendo esta amplas zonas de influência na sociedade.
Secularização deriva da palavra latina saeculum, que significa “século” ou “mundo”. «Deixar o século» era uma expressão usada para designar uma vocação religiosa que, normalmente, não o desprezando, se ocupava de coisas superiores a este mundo. O secular é o próprio deste mundo, terreno, humano.
Mais em pormenor a secularização caracteriza-se por:

1 — Decadência da religião: progressiva perda de valor e de prestígio socialmente reconhecidos dos símbolos e instituições religiosas.

2 — Conformidade com este mundo: desvia-se a atenção do sobrenatural e há um empenho quase total nos assuntos deste mundo. Já não se age em função de uma vida futura, o “outro mundo”. As necessidades e ambições imediatas passam a ser as motivações fundamentais: a saúde e a beleza do corpo importam mais do que a salvação da alma; o mundo em que o homem vive é demasiado complexo, desequilibrado e problemático, absorvendo a totalidade do seu esforço e das suas preocupações.

3 — Autonomia dos actos e instituições humanas: normas de comportamento e instituições outrora compreendidas como tendo um fundamento divino passam a ser interpretadas como fenómenos dos quais o homem é autor e responsável ou, pelo menos, como assuntos dos quais o homem se pode encarregar sem recurso a justificações e intervenções divinas. Deus, progressivamente, retira-se e abandona o mundo do homens. A separação Igreja-Estado conduziu ao desenvolvimento de estruturas políticas não submetidas a qualquer autoridade religiosa.

4 — Separação entre religião e sociedade: é socialmente mais visível a acção cultural de políticos, jornalistas, economistas, etc. do que a dos “representantes de Deus”.

5 — Maior predisposição para acolher as novidades culturais e a mudança: a sociedade dominada pela religião ofereceria maior resistência à mudança, procurando manter a tradição ético-religiosa, ao passo que a sociedade secular se caracterizaria por uma maior flexibilidade e mobilidade.

6 — Maior pluralismo religioso: a diminuição da presença de manifestações religiosas na vida social é acompanhada da convivência numa mesma sociedade de diferentes credos religiosos e ideologias (algumas com uma visão negativa da religião). Nenhuma religião é, ao contrário do que aconteceu, religião do Estado.

7 — Dessacralização do mundo: o fenómeno da secularização implica a autonomia do homem, da sociedade e do mundo em relação ao Sagrado. O homem das sociedades arcaicas via em quase tudo uma manifestação do Sagrado (na água, na terra, no fogo, nas plantas, nos animais, nas pedras, em si mesmo), vivia num mundo animado por presenças invisíveis, temíveis e fascinantes. O mundo do homem das sociedades modernas perdeu este encantamento: continuam a existir lugares sagrados, mas o Sagrado perdeu grande parte da sua visibilidade numa natureza à qual se retirou o seu carácter simbólico, transformada que foi em realidade puramente física, objecto de explicação racional e de domínio técnico. Prevalece, numa sociedade secularizada, uma visão racional — matemática e geométrica — do mundo na qual o sobrenatural e o misterioso não têm papel relevante.

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