quarta-feira, 2 de março de 2011

TEXTO SOBRE AS FUNÇÕES DA ARTE


As Funções da Arte


Se há diversas concepções sobre a natureza da arte também há múltiplas perspectivas sobre a função da arte. Não podendo referir todas essas várias formas de entender a função da arte iremos abordar aquelas a que os estudiosos do fenómeno artístico têm dado mais relevo.

1.  A “Arte pela Arte”


Para esta perspectiva a única finalidade que o artista deve ter é produzir e criar uma obra genuína e realmente artística. A arte não deve promover princípios éticos e políticos. Deve ser alheia a propósitos pedagógicos e moralizadores. Assim, reivindicam uma “arte pura”. A actividade criadora do artista deve ser autónoma: a única coisa que podemos legitimamente exigir ao artista é que produza uma autêntica obra de arte. Quem defende a “arte pela arte” rejeita que qualquer critério utilitarista se aplique à avaliação da obra artística.
É verdade que uma obra de arte pode despertar em nós, seus espectadores, determinados sentimentos morais, libertar-nos da estreiteza do quotidiano, mas tudo isso são aspectos exteriores à obra artística que é errado ter em conta quando a avaliamos.
O único critério de avaliação da obra artística é artístico. Não é por uma obra de arte nos instruir, nos tornar moralmente melhores, promover a unidade e fraternidade entre os seres humanos ou descrever condições reais da vida que tem valor artístico. Deve “falar de si” independentemente de factores morais, pedagógicos, sociais e políticos. Quer a actividade do artista quer o produto dessa actividade devem ser avaliadas independentemente da sua utilidade (por mais elevada que esta possa ser).
Em suma, a actividade artística é um fim em si mesmo. Se alguma finalidade pode ter é unicamente a realização do impulso artístico.


2.  A Arte como Purificação ou “Catarse”


Esta perspectiva sobre a função da arte surgiu na Antiguidade Clássica através do filósofo grego Aristóteles. Para Aristóteles a função principal da arte (e referia-se sobretudo à tragédia grega) era a de libertar indirectamente o espectador de certas paixões que poderiam ser-lhe prejudiciais mediante a contemplação das acções normalmente funestas que acontecem no palco. O espectador comove-se e revive as paixões que dominam as personagens. Mediante esse “contágio” libertar-se-ia dessas paixões que seriam desastrosas, nas suas consequências, se vividas pessoalmente.
Segundo Aristóteles, a tragédia provoca compaixão e piedade no espectador porque este reconhece que poderia sofrer as mesmas consequências que o herói ou o protagonista da “peça teatral” se estivesse envolvido em circunstâncias semelhantes. E não se pense que a contemplação dos acontecimentos representados em palco não produz prazer. Segundo Aristóteles, o prazer estético decorre, neste caso, do facto de o espectador se aperceber da lógica interna da narrativa (o prazer da aprendizagem). Aristóteles relaciona o prazer estético com o sentimento moral e o conhecimento da realidade representada na história que a tragédia relata.
Pode em certa medida dizer-se que em Aristóteles a arte está ao serviço da moralidade. A arte tem como principal função a melhoria moral dos seres humanos. Para o filósogo grego, as tragédias com valor artístico são as que ensinam aos espectadores que não há uma correspondência necessária entre as qualidades morais de um ser humano e as suas circunstâncias, isto é, entre virtude e felicidade. A riqueza e a cultura são muitas vezes insuficientes para tornar um ser humano virtuoso. A boa tragédia ensina que para sermos felizes é necessário, embora não suficiente, por causa das circunstâncias, exercitar as virtudes morais.


3. A Arte como Evasão


Segundo esta perspectiva a arte tem uma função muito clara: permite, quer ao artista quer ao público, a evasão face a uma realidade insatisfatória e desagradável. É uma forma de escapar à rotina quotidiana e de iludir momentaneamente os aspectos dolorosos quer da nossa existência pessoal quer da vida e da condição humanas. A arte oferece-nos, no seio deste mundo tantas vezes insuportável e desencantador, “outro mundo”, maravilhoso, encantador e mágico. Sem esta dimensão extraordinária a vida seria muito mais difícil de suportar.

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