terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

FILMES SOBRE O PROBLEMA DA FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL - O RESGATE DO SOLDADO RYAN

Filme  -  O RESGATE DO SOLDADO RYAN



Título Original: Saving Private Ryan
Título Traduzido: O Resgate do Soldado Ryan
Género: Guerra
Realização: Steven Spielberg
Duração: 2h 49m
Ano de Lançamento: 1998

SINOPSE
Partindo da perspectiva de um batalhão de soldados americanos, o filme começa com a histórica invasão do Dia D, na Segunda Guerra Mundial. Os confrontos nas praias onde tem lugar o desembarque, bem como os episódios subsequentes, são o tema inicial. De seguida, apercebemo-nos de que um grupo de soldados está encarregue de uma perigosa missão especial. O Capitão John Miller (Tom Hanks) deve conduzir os seus homens para trás das linhas inimigas com o objectivo de encontrar e resgatar o soldado James Ryan, cujos três irmãos já morreram em combate. Enfrentando difíceis obstáculos, alguns aparentemente impossíveis de ultrapassar, os soldados comandados por Miller questionam as suas ordens.
Inconformados com a ordem de procurar uma agulha (Ryan) no palheiro (a guerra), os soldados liderados por Miller interrogam-se se um soldado valerá o esforço, e até o sacrifico, de oito homens. Será que salvar uma vida justifica que se possam perder oito vidas? Será isto moralmente correcto? No final, Miller diz a Ryan: "Faça com que isto tenha valido a pena!"
Por que razão oito homens devem arriscar as suas vidas para salvar apenas uma? Cercados pela brutal realidade da guerra, cada homem procura a sua própria resposta - e a força para triunfar com honra, decência e coragem num contexto em que o futuro é incerto.

ACTIVIDADES SOBRE O FILME
1. De que missão são encarregues o capitão Miller e os soldados por si liderados?
R: Miller e os seus subordinados são encarregues de encontrar e, caso esteja vivo, levar de volta para os EUA o soldado Ryan, o único dos quatro irmãos da família que ainda não foi dado como morto.
2. Qual é o problema central do filme? Qual a questão que os subordinados de Miller colocam perante a missão a que foram obrigados?
R: A questão central do filme é a seguinte: «Será que uma vida justifica que se ponham em risco oito vidas?». Inconformados com a ordem de procurar uma agulha (Ryan) no palheiro (a guerra), os soldados liderados por Miller interrogam-se por que razão um soldado vale o esforço de oito homens e justifica que arrisquem a vida para o salvar: salvar uma vida justifica que se possam eventualmente perder oito vidas? É isso moralmente correcto?
Num diálogo do filme, Reiben exprime ao capitão as suas reservas:
Reiben – Sabe, capitão, esta expedição vai contra tudo o que me ensinaram.
Miller – Como assim?
R – Quero dizer que não faz sentido.
M – O que é que não faz sentido, Reiben?
R – A matemática, o raio da matemática. Talvez me pudesse explicar?
M – Claro. É para isso que aqui estou. Para que vocês entendam que tudo o que estamos a fazer tem lógica, não é absurdo.
R – Por favor capitão, poupe-me a essa conversa.
M – Qual é o seu problema Reiben? O que quer saber? 
R – Bem, senhor, falando só de aritmética. Qual é o sentido, a estratégia, de arriscar oito vidas para salvar uma?
3. A resposta que o filme dá é utilitarista ou kantiana? Como se justifica a missão dos soldados?
R: Embora em certos momentos de desespero e desalento, o capitão Miller desabafe «Este soldado Ryan é melhor que se o salvarmos invente uma lâmpada que nunca se apague ou um carro que ande sobre a água», a pouco e pouco apercebe-se de que não é um cálculo de custos e benefícios que está realmente em jogo. Parece-lhe superficial pensar que a razão de ser da dificílima missão depende de Ryan ser um bom investimento social. A justificação moral de uma missão de salvamento – é disso que se trata porque em termos legais os soldados têm de obedecer às ordens – não reside no número de vidas que eventualmente serão salvas. Salvar uma vida não é um meio. É um fim em si mesmo. Pensar que só se justifica salvar Ryan se a sociedade vier a beneficiar com isso é superficial. Caso contrário, os homens que perderam a vida na guerra teriam menos valor do que aqueles que se salvaram e sobreviveram.
Para Miller, há razões mais fundamentais que ultrapassam uma análise centrada em custos e benefícios. Apesar de algumas oscilações, Miller rejeita a aritmética social e moral do utilitarismo. Há valores mais fundamentais subjacentes a certos actos e à guerra em geral. A guerra, para o capitão, está a ser feita para salvaguardar valores fundamentais como a camaradagem, a integridade, a lealdade, a honra e também a liberdade social e política. No caso desta missão específica, o valor humano é a compaixão, poupar uma mãe à tragédia de perder todos os seus filhos numa guerra.
Miller, através do qual Spielberg passa a sua mensagem, escolhe a posição formal da ética kantiana. Há valores supremos e deveres absolutos. Tal como devemos respeitar as regras da justiça mesmo que por vezes isso conduza a ilibar culpados, devemos tentar que um soldado quase desconhecido volte a casa vivo mesmo que a vida de vários soldados seja posta em causa. Os princípios e os deveres contam mais do que as consequências. O respeito por nós próprios depende do respeito que atribuímos à vida humana individual. Temos a responsabilidade de honrar certos valores morais, custe o que custar.
Apesar de tudo, o filme evidencia a dificuldade da opção entre estas duas posições éticas.
4.Pensa que a missão só se justificaria se Ryan subsequentemente desse, mediante os seus actos, um contributo muito valioso para a sociedade?
R: As últimas palavras de Miller, já moribundo, foram as seguintes: «Torna-te merecedor disto». Estas palavras – Ryan deveria estar na sua vida futura à altura do sacrifício dos seis homens que morreram para o salvar e dos outros dois que arriscaram a vida – parecem sugerir que o resgate de Ryan seria moralmente justificado na condição de a vida que foi salva ser uma vida que se viesse a revelar produtiva e socialmente útil. Contudo, Ryan foi salvo por razões humanitárias, pelo seu valor intrínseco como indivíduo, não por causa do seu eventual contributo futuro para a sociedade em que vivesse. Talvez as palavras decisivas sobre o assunto sejam as que, a dado momento, o sargento Horvath pronuncia: «Um dia quando nos lembrarmos de tudo isto, diremos que resgatar o Ryan foi a única coisa decente que fizemos em toda esta maldita confusão».
Apesar de tudo, mantendo uma certa ambiguidade, o filme conclui mostrando Ryan, já idoso, junto ao túmulo de Miller perguntando se terá merecido tão grande sacrifício. O filme apresenta indícios de que Ryan teve uma vida que, não sendo excepcional, foi meritória e decente.
5. Se fosse nomeado para fazer parte do grupo comandado pelo capitão Miller qual seria a sua reacção? Imagine que defende a teoria ética conhecida pelo nome de utilitarismo. Poderia basear-se nessa teoria para justificar a sua recusa? Poderia basear-se na teoria kantiana para justificar a sua recusa? Se aceitasse a missão, fá-lo-ia com base em princípios utilitaristas ou kantianos?

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