terça-feira, 26 de abril de 2011

NIETZSCHE E A MORAL CRISTÃ


NIETZSCHE E A MORAL CRISTÃ
Para libertar a vida da prisão da moral dualista, própria do racionalismo metafísico que a intoxicou ao longo de séculos (e ainda a intoxica de modo evidente), Nietzsche atacou a moral cristã que, com algumas modificações, é um prolongamento da raiz platónica. Mas Nietzsche não é, por isso, um «pregador» da desrazão, da imaginação fantasista e delirante, da ignorância como conduta de vida. O que ele pretende mostrar é que o tipo de homem que a metafísica e a moral cristãs visam modelar é um tipo fraco, no sentido em que, para ser moral, deve alhear-se de uma parte da realidade, a mais concreta; a dimensão da sensibilidade. Assim, descreve o homem ideal da moral cristã como um «hemiplégico», paralisado de um lado. Tomar os valores idealistas e racionalistas por verdades absolutas é um sinal de decadência, mais, de uma vontade anárquica (que não usa o espírito para embelezar os sentidos) e rancorosa. Uma vontade que não ama a vida e denigre aqueles que a amam tal como ela é.
Para Nietzsche, ser fraco é ter necessidade de certezas (a ciência, a verdade) ao passo que a existência, os sentimentos, os sentidos têm algo de imprevisível, enigmático, ambíguo. Ser fraco é querer sacrificar o mundo sensível (os sentimentos, os sentidos, «esta vida») a uma razão pretensamente objectiva e que cinde a realidade, estabelecendo um dualismo artificial:
Bem = Verdadeiro e Real/Mal = Falso e ilusório.
Ser fraco, é ter necessidade, para viver «neste mundo», de um ideal abstracto, fora da experiência sensível e mesmo fora do mundo, para o condenar. Ser fraco é ter necessidade de um mundo ideal, intemporal, imutável, que permita denegrir o tempo, a história e a mudança.
Ser fraco é fazer de uma ilusão (Deus) uma autoridade absoluta, infalível, perante a qual o homem se humilha: esse ser ideal, invenção humana, vira-se contra o homem real que o concebeu. Ser fraco e doente, ter má relação com a vida, é ter necessidade de desprezar a realidade sensível, de agir, por ressentimento, contra o que se é incapaz de tornar sublime, de modelar, de embelezar: o corpo, realidade complexa, de sentimentos caprichosos, de paixões súbitas, tenazes, sufocantes e ilógicas. Ora o corpo não é bom nem mau. O que acontece é que a sua extraordinária complexidade é mais subtil do que as simplistas antíteses da moral dualista; as paixões são umas vezes exaltantes outras vezes estúpidas. Os sentidos enganam-se mas que faríamos nós sem as suas reacções finas, imediatas e instintivas, se estivéssemos à espera das reacções elaboradas e frequentemente esquemáticas da razão.
Eis porque os ídolos da metafísica e da moral dualistas, nascidos de uma vontade fraca e doentia, são vazios e ocos, têm uma influência mórbida e estão condenados ao crepúsculo.
Não há valores inscritos no céu: é a nossa vontade, são os nossos instintos, as nossas paixões que, sob a capa da racionalidade, os criam. E se sentimos necessidade de inventar ideais supra-terrestres é porque a nossa vontade doente e os nossos instintos enfraquecidos não suportam a terra e, por cobardia, querem escapar-lhe. O mundo sensível é verdadeiramente real porque mutável, vivo: é aqui que realmente vivemos porque a vida é devir.



SÍNTESE DA CRÍTICA DE NIETZSCHE À MORAL CRISTÃ
A - TEMA FUNDAMENTAL - Critica a moral cristã como moral que atrofia e nega a vida porque inventa uma outra vida para desvalorizar a que vivemos.
B - OBJECTIVO DESTA CRÍTICA - Libertar a vida, libertando-a de uma moral que se vai denunciar como imoral e indigna porque intoxica a vida.
C - COMO SE DESINTOXICA A VIDA? - Mostra-se que DEUS, o suporte ou o fundamento dessa moral antinatural não é digno de crença porque é uma invenção ou ficção dos que não conseguem suportar a vida, ou seja, é a negação da vida.
D - LIBERTA A VIDA DA SUA NEGAÇÃO DOENTIA (DEUS), QUEM A AFIRMA PLENA E SAUDAVELMENTE TEM O NOME DE SUPER - HOMEM PORQUE
a) Quer esta vida como absoluta e única.
b) Quer esta vida de tal maneira que diz sim ao eterno retorno de tudo o que se vive, aclama a ideia de que esta vida será revivida infinitamente tal como foi vivida. Reviverá eternamente quer o prazer quer a dor.
e) Rejeita a metafísica dualista própria da moral cristã porque vivendo como se esta vida tivesse uma duração infinita, destrói a cisão mundo do devir (passageiro) - mundo do ser (eterno): durando infinitamente o mundo do devir é eterno, é o verdadeiro mundo do ser.
d) A moral cristã, ao dizer que a verdadeira vida estava noutro mundo, tentava reduzir esta vida, o mundo do devir, a nada. O Super-homem declara um amor absoluto à terra, para ele esta vida é tudo, porque a concebe como eterna.
e) O Super-homem liberta a vida do fardo do «Além» e concebe-se a si próprio como o sentido da vida: Deus atrofiava a vida humana impedindo a entrega plena ao mundo do devir, à Terra.
f) O Super-homem recupera a «lnocência» porque consciente de que a crença em Deus (ser fictício que serve para desvalorizar esta vida) é um contra-senso, declara a ausência definitiva de um juiz absoluto do Bem e do Mal
(Deus): esta vida não está sujeita a juízos morais absolutos, ela está para além do Bem e do Mal. Como é eterna, sobre ela não se pode pronunciar nenhum «Juízo Final».


2 comentários:

  1. É bem vindo esse texto “resumão” sobre parte importante do pensamento de Nietzsche, no entanto, tal como tudo que se publica na internet, tem que ser recebido com alguma cautela. Lendo assim de supetão tem-se a impressão que Nietzsche era uma espécie de demônio que não acreditava em Deus. Nietzsche realmente criticou, e muito, o modo judaico-cristão de manobrar as massas através de postulados morais oferecidos às pessoas mais suscetíveis como sendo palavras de Deus, mas Nietzsche também não propagou nenhuma libertinagem que os substituísse. Na verdade ele criticou sim os doidivanas que levam a vida sem objetivo e responsabilidade, e chegou até ser um tanto retrógrado quanto às conquistas democráticas, se alinhando mais às castas nobres e abastadas como merecedoras de certos privilégios. Mas este último é um mal menor perto da importância da obra de Nietzsche ao demolir a "divindade" dos falsos religiosos e suas religiões de araque que criam e divinizam falsos ídolos. Nietzsche foi um filósofo muito letrado e certamente leu todo o pensamento de sua época publicado em livros, pois nos idos do século 19 na Alemanha já havia de tudo disponível em livros impressos. Em 1881 ele cita em cartas pessoais vários autores que influenciariam a sua obra (como Espinoza, por exemplo) e a partir desse ano ele escreve suas obras mais importantes. Nenhum resumo substitui a leitura de suas obras à partir de Aurora. Se há um autor imprescindível este é Nietzsche.

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  2. Para Nietzsche a moral cristã não passa de um aprisionamento para o homem ,onde o homem cristão,se deixa guiar posicionalmente por acreditar que o sacerdote o levara ao paraíso com a graça de deus

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