RESULTADO DA APLICAÇÃO DA DÚVIDA
ACABA POR NOS CONDUZIR À PRIMEIRA E ABSOLUTA VERDADE, AO PRIMEIRO PRINCÍPIO DO SISTEMA DO SABER
Podemos agora ver qual o resultado da aplicação da dúvida. Ela pôs em causa toda a dimensão dos objectos, quer sensíveis quer inteligíveis. Pôs tudo em causa. Neste momento poderíamos dizer que reina o cepticismo: tudo é falso, nada é verdadeiro, ou seja, nada resiste à dúvida. Contudo, esta conclusão é precipitada porque quando a dúvida atinge o seu ponto máximo, uma verdade indubitável vai impor-se.
Vejamos: duvidar é um acto que tem de ser exercido por alguém. Para duvidar, seja do que for e mesmo que seja de tudo, é necessário que exista o sujeito que duvida. Com efeito, a dúvida é um acto do pensamento que só é possível se existir um sujeito que o realize. A condição de possibilidade do acto de duvidar é a existência do sujeito que pensa.
Logo a existência do sujeito que duvida é uma verdade indubitável: não pode de modo algum ser posta em causa. Assim a célebre afirmação «Penso logo existo» pode ser traduzida nos seguintes termos: eu duvido de tudo mas não posso duvidar da minha existência como sujeito que, neste momento, duvida de tudo. «Duvido logo existo».
A dúvida conduz a uma verdade pura. Não é portanto uma dúvida céptica. A dúvida A dúvida conduz a uma verdade pura. Não é portanto uma dúvida céptica. A dúvida é um momento provisório e cumpre a sua função ao permitir encontrar uma verdade necessária. Tudo o que foi posto em causa irá ser progressivamente recuperado segundo uma ordem racional.
A intenção de Descartes ao pôr em causa os conhecimentos matemáticos é a de impedir que a matemática seja a ciência primeira, a ciência dos primeiros princípios. O primeiro princípio do sistema do saber não será um conhecimento de tipo matemático mas sim metafísico. A metafísica é com efeito, a ciência primeira. O primeiro conhecimento do sistema do saber (o seu princípio) será um conhecimento metafísico como iremos ver dentro em breve.
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