O RACIONALISMO DE DESCARTES (X)
O SUJEITO QUE DUVIDA DE TUDO COMEÇA A CONHECER – SE
A DISTINÇÃO ALMA – CORPO É A PRIMEIRA VERDADE A SEGUIR AO COGITO
Já dissemos que o sujeito que duvida (pensa) existe. Aprofundemos o conhecimento do sujeito para encontrar outras verdades sobre ele próprio:
1.É uma substância pensante e não corpórea; logo a alma é distinta do corpo.
É certo que existo. Mas em que consiste a minha essência? O que sou eu? Sou, e neste momento só posso ser isso, uma substância exclusivamente pensante, um sujeito puramente racional ou alma. Não posso ser uma substância corpórea porque no segundo nível da dúvida pus em causa toda a realidade sensível e essa suspeita ainda permanece. Posso duvidar da existência do corpo, não posso duvidar da existência do sujeito pensante ou da alma. Logo sou uma substância pensante.
Assim, ao descobrir a minha essência, descubro a distinção entre alma e corpo. Não sabendo se existem realmente corpos nem se tenho um, sei, contudo, que existo enquanto penso, existo como substância pensante. Portanto a existência da alma ou do pensamento é totalmente independente do corpo.
Para dizer «Eu penso logo existo» Descartes não teve necessidade de falar da existência do corpo. Podemos conhecer a alma (a substância pensante) sem que para afirmar a sua existência seja necessário que o corpo, a substância corpórea, exista.
Esta distinção alma-corpo vai ser extremamente importante para o estabelecimento de uma física anti-aristotélica, que separará radicalmente o que é material do que é espiritual.
2.O sujeito pensante é um ser imperfeito.
Continuando a reflectir sobre o percurso efectuado e procurando conhecer-se mais profundamente a si mesmo, o sujeito pensante vai descobrir que é imperfeito. Neste momento do percurso reflexivo cartesiano, o sujeito pensante descobriu duas verdades: que existe como substância pensante e que a alma é distinta do corpo. Continua contudo a duvidar de muitas outras coisas. Ora duvidar é uma imperfeição, um sinal de que sou limitado em termos de conhecimento. A dúvida tem como suporte um sujeito pensante que é imperfeito e finito.
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