quinta-feira, 14 de abril de 2011

O RACIONALISMO DE DESCARTES (XII) - A PRIMEIRA PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS


O RACIONALISMO DE DESCARTES (XII)

A PRIMEIRA PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
É uma demonstração pela via da causalidade porque utiliza o princípio de causalidade e procura saber qual a causa da ideia de perfeito, i.e.,a origem da ideia de Deus.

 OBJECTIVOS DESTA PROVA
a) Neste momento o sujeito pensante existe mas não conhece nenhuma outra realidade, ou seja, para ele nenhuma outra realidade existe. Esta situação tem o nome de solipsismo. O solipsismo consiste, neste caso, na afirmação de que só existe o sujeito pensante e as suas ideias ou representações. Embora tenha ideias ou representações de várias coisas o sujeito pensante não consegue realmente, isto é, fora do seu pensamento. Se o sujeito pensante conseguir demonstrar a existência de Deus provará que não existe só ele e assim ultrapassará o solipsismo.
b) O terceiro nível da dúvida pôs em causa a confiança que depositávamos no nosso entendimento e nos seus produtos matemáticos. Para recuperar essa confiança devemos afastar de vez a hipótese, frágil mas inquietante, de que a omnipotência divina está intimamente ligada à maldade e ao engano. Provando que Deus existe como ser perfeito e causa da ideia de perfeito provaremos que Deus não é enganador, não é um «Génio maligno», não é um ser que se empenha em iludir-me, em abalar a minha confiança naquilo que concebo como claro e distinto.
A PROVA

Sei que sou imperfeito porque duvido. Mas qual a condição necessária para considerar que duvidar é uma imperfeição? É a de que eu saiba em que consiste a perfeição. Só comparando as qualidades que eu possuo com o que penso ser a perfeição (i.e.com a ideia de um ser perfeito) é que posso dizer que eu, que duvido e não conheço tudo, sou imperfeito. A ideia de um ser perfeito corresponde à ideia de um ser que não duvida, que tudo sabe (omnisciente).
Assim ao dizer que sou imperfeito estou a pressupor a existência no meu pensamento da ideia de um ser perfeito em relação com a qual comparo as minhas qualidades.
Descubro assim em mim a ideia de um ser perfeito. Mas, se esta ideia existe, será que existe um ser perfeito?
Se Descartes conseguir provar a existência deste ser perfeito terá alcançado uma nova verdade que se irá revelar de importância decisiva.
Trata-se então de saber como a partir da ideia de um ser perfeito vai o sujeito pensante provar a existência real de um ser perfeito (Deus).

PONTO DE PARTIDA
A ideia de um ser perfeito (a ideia de perfeito) existe no meu pensamento. A prova arranca com esta pergunta: qual a causa ou o autor da ideia de perfeito?
A questão não é saber se essa ideia existe mas sim saber qual a razão de ser ou causa da sua existência no sujeito pensante.
DUAS HIPÓTESESDE SOLUÇÃO DO PROBLEMA
A causa da existência da ideia de perfeito ou é o sujeito pensante ou uma realidade diferente dele.
FORMULACÃO DO PRINCÍPIO DE CAUSALIDADE PARA DECIDIR QUAL DESTAS HIPÓTESES É VERDADEIRA
Em termos gerais, o princípio de causalidade diz que tudo tem uma causa. Em termos mais específicos este princípio diz que no efeito não pode haver mais realidade do que na causa, ou seja, a causa não pode ser inferior ao efeito.
O SUJEITO PENSANTE NÃO PODE SER A CAUSA DA IDEIA DE PERFEITO
Como já sabemos o sujeito pensante é imperfeito. Sendo imperfeito, não pode ser causa da ideia de perfeito porque então haveria mais realidade no efeito do que na causa: o imperfeito não pode ser causa do que é perfeito.
Se o sujeito pensante fosse a causa da ideia de ser perfeito (a ideia de Deus) teria de ser causa dos predicados que constituem a ideia de Deus. Como os predicados do ser perfeito (predicados como omnipotência, omnisciência, etc) são perfeições o sujeito pensante teria de ser perfeito para ser o seu autor. Ora isso não acontece. Logo sujeito pensante não pode ser a causa da ideia de perfeito.
DEUS, O SER PERFEITO, É A CAUSA NECESSÁRIA DA IDEIA DE PERFEITO
Só o ser perfeito é causa da ideia de perfeito. O princípio de causalidade diz que tudo tem uma causa. Afastada a hipótese de o sujeito pensante ser essa causa o sujeito tem de reconhecer que a causa da ideia de perfeito só pode ser uma realidade perfeita. Esse ser perfeito é Deus. Só assim se evita que haja mais realidade no efeito do que na causa.
Se a ideia de um ser perfeito existe, necessariamente existe o ser perfeito que a «pôs» no sujeito pensante. Deus existe como causa da ideia de perfeito.


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